Na sala de visitas, um outro móvel que tem história: uma vitrine construída de madeiras nobres com detalhes em marcheteria que pertenceu a um empresário alemão. O imigrante mudou-se para o Brasil logo após o início da Segunda Guerra Mundial. Para se ter uma ideia do carinho que o antigo dono tinha pelo móvel, basta pensar que a vitrine ficou em um abrigo anti-aéreo até 1956, quando o empresário voltou à Alemanha para buscá-lo. Antes de ganhar um espaço de honra na sala da família Dergint, a peça permaneceu um bom tempo na oficina de um restaurador. "É difícil encontrar um bom restaurador, mas quando você encontra, tem que tratar na palma da mão, porque ele merece", brinca.
Outra dica do professor é quanto à restauração. Nada de ficar raspando a peça para esconder um defeito. Muitas vezes é melhor achar um jeito de esconder discretamente a parte danificada, colocando um vidro e uns objetos por cima. Ou deixar o defeito à mostra, pois é sinal do tempo. E atenção com a limpeza e diaristas descuidadas. Na casa do professor, quem cuida dessa parte é a própria Ligia. "Precisa ter sensibilidade", conta a esposa.
Dergint gosta de mostrar a sua coleção para as pessoas jovens, que se interessam por arte e antiguidades. Ele diz que não é o dono dos objetos, mas o seu guardião. "Eu tenho essas coisas, mas o proprietário mesmo é quem fundiu a peça, quem pintou o quadro. Nós somos apenas guardiões das peças", afirma.
Outro segredo de Dergint é pechinchar sempre. "Eu sei que o preço que um antiquário paga é baixo e quando ele vai te vender, é caro", comenta. Segundo o professor, está errado quem pensa que bons antiquários só têm objetos caros. Nesses lugares, Dergint diz que encontra peças boas e baratas.
O professor acha graça quando alguém pergunta se ele não receia as "energias negativas" que uma peça usada pode trazer do seu antigo proprietário. "Eu gosto tanto delas, que para mim as peças são só positivas", diz. "Cada peça que você compra, tem que pesquisar em livro. Isso é um estímulo cultural. A vida sem cultura é uma vida cinzenta e o aspecto cultural te dá um colorido na vida, te deixa mais preparado para viver", ensina.


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História e arte em um mesmo ambiente

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Peça da coleção de Ario Taborda Dergint que foi emprestada para a exposição Brasil 500 Anos
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Baú com três chaves e outras peças que decoram hall de entrada
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Prata e madeira: o convívio estético de materiais diferentes