Maurício Troyani: "Ninguém quer investir em treinamento"
Maurício Troyani: "Ninguém quer investir em treinamento" | Foto: Ricardo Chicarelli



O relatório Carros 2025 do banco americano Goldman Sachs aponta que, em oito anos, 25% dos automóveis vendidos terão motores elétricos, mas a maioria será híbrida. A estimativa é que em um ou dois anos, os carros semi-autônomos sejam uma realidade nas estradas. As empresas estão focando em softwares e outras tecnologias inovadoras. Computador de bordo e direção elétrica são praticamente itens de séries nos carros lançados nos últimos anos.
Mas essas inovações podem se tornar um problema ao bolso do consumidor quando a garantia de fábrica acaba. As oficinas mecânicas geral não estão preparadas para lidar com tanta tecnologia.
"A tendência é esse mercado (oficinas) encolher no sentido de número de empresas, mas se fortalecer com a profissionalização. Os veículos novos, híbridos, chegam ao mercado com novas tecnologias e o setor de reparação precisa acompanhar. Aquele modelo de oficina que fazia todos os serviços num veículo deve ser cada vez mais obsoleto", afirmou Maurício Troyani, presidente do Sindirepa (Sindicato de Reparação de Veículos do Norte do Paraná).
O sindicato abrange 32 municípios da região, onde estão 1.632 empresas de reparação automotiva que empregam, em média, quatro funcionários cada uma. Das cerca de 300 oficinas filiadas à entidade, apenas cerca de dez estão aptas para trabalhar com carros de ponto. "A pessoa não têm conhecimento dos carros novos, principalmente na questão da parte eletrônica. A manutenção dos carros acaba por ficar presa às concessionárias", disse o presidente.
A necessidade de investir em capacitação e treinamento foi tema do 6º Seminário Automotivo de Londrina e Região, realizado na semana passada, no Senai. "Ninguém quer investir em treinamento. Ele (empresário) acha que vai resolver todos os problemas com um aparelho de diagnose. Mas estamos nos deparando com tecnologias cada vez mais avançadas", comentou.

Tecnologia exige treinamento e conhecimentos básicos de inglês
Tecnologia exige treinamento e conhecimentos básicos de inglês



A oficina mecânica fica atrasada dois anos em relação às concessionárias, em função da garantia de fábrica. Quando a garantia termina, o consumidor procura a oficina particular por questão de economia. A hora da concessionária custa em média R$ 280 e na reparadora entre R$ 60 e R$ 100.
As empresas que não se adaptarem à nova realidade mercado tendem a fechar as portas em pouco tempo. "A tendência é dar uma afunilada. Ainda estamos lidando com carros duráveis. Os fabricados antes de 2004, por exemplo, você repara um amortecedor e ele volta a rodar. Mas de lá para cá, os carros vão se deterior na parte eletrônica. Um problema eletrônico pode interromper o funcionamento do limpador de para-brisa. Os carros novos vêm com sistema stop assist, mas se der um defeito os profissionais não sabem como consertar", exemplificou.
Ele acredita na segmentação do setor, com empresas especializadas em determinados sistemas ou marcas. "Aquele modelo de oficina que faz tudo não cabe mais. A estrutura para isso precisa ser muito grande."

CAPACITAÇÃO
Além do desafio de conhecer as novas tecnologias embarcadas, o mecânico precisa ter conhecimento básico de inglês. "Não tem como dar um passo sem entender um pouco de inglês. Como ele vai entender um diagrama elétrico sem saber inglês?", questiona.
O sindicato está trabalhando em parceria com o Senai para oferecer cursos de capacitação e treinamento. De acordo com o gerente do Senai Londrina, Henry Cabral, percebe-se um crescimento da procura de cursos técnicos e de manutenção automotiva, mas são iniciativas pessoais que não partiram da necessidade das oficinas.
O Senai oferece curso técnico de dois anos, além de cursos de aperfeiçoamento. Também mantém uma parceria com a Fiat para atualização tecnológica.