Alexandre e Armando: trabalho que passa de pai para filho
Alexandre e Armando: trabalho que passa de pai para filho | Foto: Marcos Zanutto



A paixão por carros antigos é crescente. Os clubes de automóveis se multiplicam, assim como a dificuldade de manter as carangas em perfeito estado. Conseguir peças para restaurar os possantes pode ser um desafio demorado, caro e, em alguns casos, ineficiente. O latoeiro Armando Noboyashi Tanno, da RST Latarias, transformou essa dificuldade em um nicho de mercado. Como não encontrava peças para compra, ele criou ferramentas para fazê-las no padrão original.
"Você não encontra mais peças de reposição, e às vezes, os modelos como por exemplo de caminhonetes chegaram ao Brasil com uns dois anos de atraso. Então, a peça de um determinado modelo que está a venda no exterior não corresponde ao mesmo modelo aqui do Brasil", explicou Tanno.

Para suprir essa lacuna ele produz chapas em padrão original como assoalhos, caixas de ar, para-choque, grades, saias e bigodes e folhas de portas, que abastecem restauradores do Brasil todo. Os produtos são comercializados pela internet. "Procuramos fazer coisas que não estão mais no mercado. Tem um para-choque de Chevrolet que você só encontra nos Estados Unidos. São poucas as peças de reposição de carro brasileiro", disse.

O trabalho é artesanal e demorado. Tanno está desenvolvendo há dois meses uma ferramenta específica para fazer uma peça para um modelo Dogde. "Você vai no erro e acerto. Como a lata não se modela é preciso antes fazer a ferramenta", explica.

A intenção inicial do latoeiro era suprir a necessidade de peça para os carros que estava restaurando, mas logo percebeu um potencial nicho de mercado. "Precisava de uma peça e fui num funileiro que me pediu uns R$ 200 mil para fazer a dobra na placa. Voltei para casa e comecei a pensar. Então decidi fazer a ferramenta e eu mesmo fazer a peça. Não gastei mais de R$ 20 mil", contou.

Com a ferramenta pronta, Tanno percebeu que poderia produzir as peças e vendê-las conforme a demanda do mercado e com isso abater o custo da ferramenta e gerar uma fonte a mais para o negócio. O mercado ainda é pequeno. O projeto da empresa é vender em média duas peças por mês, mas ele já recebe encomenda de revendas de peças. "Já vendemos umas 100 peças para o Brasil todo. Estamos apostando em peças com valor e que tem demanda", disse.


PACIÊNCIA
A restauração de veículos é uma arte que exige paciência. Com todas as peças em mão, o trabalho pode ser feito em seis ou oito meses, mas quando é necessário garimpá-las, pode levar anos. "Se tiver as peças, o funileiro tradicional até encara fazer o restauro, mas se tiver que fazer as peças ele abandona sem terminar", comentou.

Tanno acredita que já restaurou mais de 200 carros ao longo da carreira. Ele começou a trabalhar com latoaria e pintura há quase 50 anos. Hoje, está debruçado em dois projetos: um Ford Pé de Bode de 1932 e um Dogde Charge 1973.

É um oficio para o qual há falta de profissionais. Normalmente o trabalho passa de pai para filho. "Falta curso de restauração. Você só aprende estando na oficina. É na prática mesmo", disse Alexandre Thiago Tanno, de 33 anos, que é especializado em pintura, e ajuda o pai nas restaurações.