A revista em quadrinhos "Monstro do Pântano" foi publicada no Brasil entre 1990 e 1991, mas, provavelmente, só foi devidamente valorizada por um número maior de leitores anos depois. Como foi o caso do repórter da FOLHA André Amorim, que, na época, com seus 12 anos, não se interessou muito pelo conteúdo e apelo visual da revista. "Foi a primeira voltada para adultos mesmo e uma aposta da editora, porque não havia um público formado ainda. Foi um divisor de águas. O autor, Alan Moore, é considerado como o cara que revolucionou os quadrinhos", contextualiza ele, acrescentando que Moore é o argumentista de outros sucessos como "Watchmen" e "V de Vingança".
A coleção completa do "Monstro do Pântano" foi publicada em português pela editora Abril Jovem, do número 1 ao 19 e adquirida pelo jornalista ao longo de três anos. "Fiz um serviço de garimpagem. Adquiri em sebos da cidade e também em sites especializados. Comprei números por módicos R$ 3 e outros por R$ 30", conta. "Apesar da aparência grotesca e até infantil, o Moore resgata os filmes de terror. Os personagens trazem densidade, profundidade psicológica. As sagas que permeiam as histórias em quadrinhos aparecem aqui de forma aterrorizantes", define Amorim, apontando para a revista, que foi lançada nos Estados Unidos, em 1985, onde ainda é publicada.
A fama de "Monstro do Pântano" também se deve à criação de personagens como John Constantine -que virou, há alguns anos, filme em Hollywood-, um herói sem escrúpulos, que costuma enganar os amigos e tem o péssimo hábito de fumar. Abby Cable, uma humana exótica de cabelos brancos, é a mulher do Monstro, que chega a ser processada por "bizarrice sexual". O Monstro ainda tem amigos como uma escritora esquizofrênica, e um hippie desempregado. "O Monstro, na verdade, era Alec, um cientista que morreu num acidente e ressuscitou como um elemental da natureza. Ele também tem sentimentos humanos de vingança, amor e justiça", explica Amorim.
Dentre os números do quadrinho preferidos do jornalista estão "Prenúncio do Apocalipse" e "Do Mundo Macabro de Alan Moore". "Depois que acabou a revista, o Monstro passou a sair em outras histórias em quadrinhos como o Super-Homem e Super Amigos. O Monstro também conhece outros personagens da DC Comics, ele briga com o Batman e o Gavião Negro", conta ele, que coleciona, no momento, a revista "Animal". "Uma vez num sebo, convenci um pai a não deixar o filho levar a revista, porque eu queria comprar aquele número, claro. Mas, de fato, não é recomendado para crianças, o conteúdo é adulto", pontua André Amorim.