Perto de completar um século de vida, Londrina continua atraindo pessoas que buscam novas oportunidades. Um movimento migratório pautado por ofertas de trabalho, possibilidade de um outro estilo de vida e crescimento profissional. Novos forasteiros, dispostos a arriscar tudo para encontrar aqui, o seu lugar.

As histórias que se replicam: tem quem veio para estudar e acabou ficando, quem entregou o coração para um ou uma londrinense, quem recebeu uma oferta de trabalho e quem veio também só para uma temporada, sem data para deixar a cidade, mas contando com a possibilidade de um dia ir embora com a consciência de que a terra vermelha fica pra sempre no pé de quem pisa esse chão. Novos rostos construindo uma cidade que se renova constantemente.

Arundhati Dey veio da Índia e chegou em Londrina há pouco mais de seis meses para trabalhar na TCS
Arundhati Dey veio da Índia e chegou em Londrina há pouco mais de seis meses para trabalhar na TCS | Foto: Roberto Custodio

Arundhati Dey chegou em Londrina há pouco mais de seis meses. É indiana, tem 26 anos e começa a arriscar o português com os colegas. Recebeu a proposta da TCS - Tata Consultancy Services onde já trabalhava para continuar atuando junto a um grande cliente dos Estados Unidos. O fuso horário no Brasil era melhor do que o fuso na Índia para o atendimento.

Foi a primeira vez que ela saiu do seu país, uma viagem internacional para um lugar completamente fora dos seus planos. Nunca tinha nem pensado em vir para o Brasil. Uma mudança grande não só para ela, mas também para toda a pequena comunidade de indianos instalados na cidade, alguns que vieram sozinhos como Arundhati e outros, acompanhados pelas famílias.

COMPARTILHAR APRENDIZADO

Só na TCS são cerca de 60 associados e a empresa faz questão de adotar políticas de integração entre brasileiros e estrangeiros inclusive com celebrações características da Índia, como o Diwali, o festival das luzes ou o Holi, o festival das cores com direito a comidas típicas, para deleite dos expatriados saudosos de casa. A empresa tem a cultura de compartilhar aprendizado, do intercâmbio cultural como uma forma de espalhar os próprios valores da TCS nas unidades dispersas pelo mundo. “Eu também queria o desafio de sair e trabalhar em outro lugar. Londrina é uma cidade muito limpa e silenciosa, com exceção das motos. As pessoas são muito boas e calorosas, me sinto protegida e impressionada porque todos tentam me compreender, mesmo com as dificuldades da língua. Os londrinenses são abertos e dispostos a acolher”, conta Arundhati.

Tem um famoso ditado indiano que diz: ‘Toda doença é saudade do lar’ e Arundhati, mesmo se acostumando a ser chamada de “querida” por onde quer que vá, sente o peso da distância de casa e da família e isso já faz ela pensar no dia que vai deixar Londrina, mesmo sem um prazo definido para isso. “Minha família fica preocupada com notícias de violência, principalmente no Rio e em São Paulo, no entanto, entendem que aqui estou mais protegida”, revela.

Outro ponto forte para ela é a sensação de liberdade em ser quem é. “Me sinto mais livre para me expressar, diferente da Índia onde o ambiente é mais ortodoxo e conservador. Me sinto livre do julgamento, aqui as pessoas costumam não opinar e posso ser eu mesma. Sinto falta do meu país, das cores, mas amo estar no Brasil, mas é muito longe, é muito difícil também para meus pais virem aqui”, diz. Se o dia de deixar Londrina chegar, Arundhati espera deixar aqui a boa experiencia de convivência, o sentimento de viver em comunidade, o respeito pelo diferente e um pouco da sua própria cultura.

O mineiro que trocou SP pelo Paraná

Mineiro de Monte Santo de Minas, Eduardo Frezarin é um daqueles forasteiros que escolheu Londrina para construir uma vida. Depois de fazer um curso colegial técnico em Mococa, no interior, mudou para a capital, São Paulo para continuar atuando na área de eletrônica e telecomunicações, prestando serviço para grandes empresas da área. Já namorava uma londrinense e ficou sabendo que aqui começava a fervilhar um ambiente de inovação, algo com potencial para preencher o vazio deixado pela cultura cafeeira.

Deixar uma carreira já estabelecida na capital paulista ou começar outra no interior do Paraná? “Eu lembro que ficava encantado com a forma como Londrina trabalhava bem, falavam que a cidade teve uma época do café e que agora seria uma época da tecnologia como protagonista”, comenta. Veio a decisão de vir para cá, no início como professor da Adetec, a Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina e Região, e tudo começou a dar certo, com a família crescendo junto com o ecossistema de tecnologia e inovação.

Frezarin se diz um empreendedor e viu uma grande oportunidade na Cidade que se apresentava a ele focada na tecnologia, organizada, com qualidade de vida e custo menor, capaz de oferecer uma boa infraestrutura para educar os filhos. “Eu vim muito na paz. Claro que quando chegamos em um novo lugar, nunca é fácil, mas os londrinenses foram muito receptivos. Desde que cheguei, tenho conhecido empreendedores, executivos, pessoas da administração pública, do governo, todos dispostos em contribuir, as portas sempre abertas para quem vem de fora e somos muitos. Londrina é muito construída pelas mãos daqueles que escolheram a cidade, então, eu me senti muito acolhido, muito respeitado, muita gente confiou no meu trabalho e isso fez muita diferença”, afirma.

Com o olhar atento ao movimento e demandas do mercado, Frezarin acabou montando uma startup para o setor de eventos, a Yazo, que acabou se tornando a maior startup de aplicativos para eventos da América Latina. “Londrina tem vocação para a inovação e para o empreendedorismo, características que me deixam animado com o futuro e que a tornam cada vez mais relevante e importante no cenário nacional e até global. É um lugar fantástico, uma cidade maravilhosa que se preocupa com o meio-ambiente, com a qualidade de vida dos seus moradores. Um povo muito trabalhador, organizado, é limpa. Uma bela cidade onde quero viver muito com a minha família, com meus netos. Não me arrependo da ida para Londrina, foi uma decisão muito acertada. Hoje tenho três CNPJs em Londrina, emprego cerca 60 pessoas e sou muito feliz de estar aqui”, completa.