''Ubasute Yama'', ou, em português, jogar os idosos na montanha, é uma lenda japonesa que conta a história de um pequeno vilarejo que abandonava seus moradores com mais de 70 anos. Toshikazu Kawamura, 59 anos, nasceu em Yamaguchi e veio ao Brasil quando tinha dez anos. No domingo, interpretou o rei na peça que encerrou o evento. Ele conta que, primeiro, fez os idosos presentes chorarem. ''Isso foi quando eu, como rei, mandei jogar idoso no mato.'' Kawamura explica que a lenda nasceu de histórias de invernos rigorosos, quando não se tinha alimentos suficientes e a solução encontrada era deixar os mais velhos de lado.
A fábula ganha ares mais alegres quando se aproxima de seu final. A idosa, deixada no mato aos pés da montanha pela filha, é convocada para ajudar. O regente feudal vizinho queria a guerra e propõe um desafio que considera impossível: fazer um nó com cinzas. A senhora dá a resposta: basta colocá-las no fogo com uma palha. A filha, arrependida, traz a mãe de volta, para viver escondida no porão.
Como o reino vizinho realmente busca a guerra, propõe mais um desafio e manda duas éguas, mãe e filha, que parecem absolutamente iguais. Mais uma vez, a filha pede ajuda a sua mãe. ''Mas isso é fácil e eu posso ajudar.'' A senhora dá alimento aos animais e logo avisa. ''Esta que está comendo primeiro é a filha, pois a mãe sempre faz isso: dá espaço para a sua cria.'' O conhecimento, mais uma vez, mantém a paz entre os reinos.
Depois de fazer os idosos presentes chorarem, Kawamura, o rei da peça, apresentada trechos em português e outros em japonês, viu eles sorrirem. ''No final, o rei anuncia que não se deve mais deixar os mais velhos abandonados, pois foi a sabedoria de um deles que salvou o vilarejo. Foi aí que os olhos da platéia brilharam.''
No cinema
A lenda já foi retratada no cinema no longa-metragem ''A Balada de Narayama'' (1983), do veterano Shohei Imamura. A relação com a velhice e a morte é tema recorrente no cinema japonês. Akira Kurosawa tratou da questão em diferentes momentos de sua carreira, como em ''Viver'' (1952) e ''Madadayo'' (1993), seu último filme como diretor. Neste, acompanhamos um costume nipônico: ano após ano, um senhor comemora que ainda tem mais tempo a viver, gritando ''Madadayo'', ou seja, ''ainda não'', em uma ode à vida. (R.U.)