A preocupação teleológica sobre os fins e rumos da existência é regra em praticamente todas as culturas. E entre os orientais, em celebração por este um século de imigração japonesa no Brasil, a expressão concreta desta ânsia é a construção de uma cápsula do tempo onde japoneses e descendentes poderão exercer o direito de imaginar como será o hoje daqui a 100 anos. Singrando em águas que ainda passarão, o navio da história terá, outra vez, quebrado relações, partido sentimentos e dividido esperanças para tornar reais novos sonhos?
  Idealizador desta arca de possibilidades, o presidente da Comunidade Nipo-brasileira de Curitiba, Rui Hara, diz que a intenção é buscar a participação de todos. ‘‘Queremos saber o que gostariam que acontecesse, se querem ver por exemplo a cultura e costumes preservados.’’
  Hara pensa que a cápsula é também um instrumento para entender o passado e planejar o amanhã. ‘‘Isso pode nos auxiliar, inclusive, para saber como levar a comunidade nipo-brasileira. Daqui a tantos anos, essa nossa ‘fachada’ de nikkeis talvez nem exista mais.’’ Particularmente, ele acha que pouca coisa estará perdida e muito terá sido transformado. ‘‘Nossos avós vieram pensando em retornar. Por isso, não podiam permitir casamento interracial. Veio a segunda geração, a terceira e o sonho de voltar para Japão acabou. Hoje, somos criados para vencer no Brasil.’’
  A cápsula ficará assentada no Parque do Centenário da Imigração, que ocupará um espaço de 500 mil metros quadrados ao lado do Aeroporto Afonso Pena e terá forte preocupação ambiental, como antecipa o autor do projeto, o arquiteto Luiz Masaro Hayakawa. ‘‘Vamos pegar uma área degrada junto à nascente do Rio Iguaçu, recuperar e transformar para uso coletivo’’, destaca. O marco irá abrigar auditório, espaço para exposições, espelho d‘água para ‘‘amortecer’’ a água da chuva e prevenir enchentes e um jardim japonês.