Um projeto de mobilidade, que facilite o ir e o vir do londrinense, é apontado como a principal necessidade da cidade no momento em que se discute a revisão do Plano Diretor
Um projeto de mobilidade, que facilite o ir e o vir do londrinense, é apontado como a principal necessidade da cidade no momento em que se discute a revisão do Plano Diretor | Foto: Ricardo Chicarelli/21-09-2017



Trânsito complicado, poluição, dificuldades de acesso aos serviços de saúde são apenas alguns dos entraves que os grandes centros urbanos enfrentam. As cidades nunca foram tão populosas e quanto mais gente, mais problemas. Em 2017, Londrina chegou à marca estimada de 558 mil habitantes e problemas não faltam. A boa notícia é que este também foi o ano em que um conjunto de iniciativas locais intensificou as discussões em torno da ideia de transformar Londrina numa smart city e melhorar a vida da população com a ajuda da tecnologia.

Numa smart city – em português, cidade inteligente –, existe uma preocupação constante em melhorar a qualidade de vida dos habitantes por meio de ações inteligentes, que tornem a cidade mais eficiente. Essas ações podem ser direcionadas à saúde, educação, meio ambiente, segurança, mobilidade, gestão pública e qualquer outra. "No meio ambiente, por exemplo, você pode ter um sistema que monitora nascentes ou detecta incêndios. Na educação, uma ferramenta de gerenciamento de matrículas pode fazer com que os alunos sejam direcionados para as escolas mais próximas de suas casas, evitando grandes deslocamentos e sobrecarga no trânsito", exemplifica o presidente do Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação (APL de TI) Roberto Nishimura.

"Uma smart city é uma cidade preparada para um novo tempo, uma cidade que funciona, onde a população se sente bem, participante, envolvida", sintetiza o gerente regional do Sebrae, Heverson Feliciano. Segundo ele, a sociedade precisa encontrar maneiras de utilizar toda a tecnologia disponível para melhorar a vida urbana. "Com toda a tecnologia que temos, é inadmissível que as pessoas gastem uma hora no trânsito para chegar ao trabalho, ou que uma pessoa tenha que acordar às 4h para entrar numa fila e conseguir uma senha para ter atendimento médico", pondera.

ENVOLVIMENTO
Para que as soluções desses problemas sejam criadas e cheguem ao dia a dia da cidade, é preciso o envolvimento de muita gente. "Isso se desdobra sobre o poder público, a iniciativa privada, as instituições de ensino, entidades ligadas a mobilidade, educação, saúde, segurança, iluminação", afirma o consultor do Sebrae Fabrício Bianchi. Segundo ele, esse processo depende de novas legislações, parcerias público-privadas e outros mecanismos. "É uma série de coisas que precisam se entrelaçar numa matriz sináptica, um modelo cerebral interligado a uma rede distribuída", sintetiza.

O cenário favorável para que isso aconteça Londrina já tem. A cidade vem se consolidando como polo tecnológico e formador de mãe de obra criativa, tem uma rede de instituições interessadas nessa discussão e o envolvimento da sociedade civil organizada. "Várias iniciativas se voltaram para esse tema, como o Fórum Desenvolve Londrina, o Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, o Hackaton, o Ecotic. Londrina hoje tem os ativos necessários, tem massa crítica sendo gerada, o poder público interessado e empresas com condições de atender essas demandas", acrescenta Bianchi.

VANGUARDA
Segundo Feliciano, apesar de existir várias iniciativas isoladas mundo afora, ainda não existe uma smart city modelo, no Brasil ou fora dele, que sirva de referência. Mas, como Londrina, muitas já iniciaram o movimento nessa direção. "Acho que começamos no momento certo e estamos chegando num ponto de maturidade que começa a fazer com que as coisas aconteçam naturalmente. Não existe mais alguém controlando esse movimento na cidade. Os setores envolvidos já conversam entre si", afirma o gerente do Sebrae. Para que a população comece a perceber isso na unidade básica de saúde, no transporte público, segundo ele, tecnologia não falta. "Falta vencermos as barreiras institucionais, burocráticas e de legislação".

O presidente do Fórum Desenvolve Londrina, Ary Sudan, é otimista com relação ao tempo necessário para isso. "De acordo com os especialistas, o processo de tornar uma cidade inteligente nunca termina, mas acho que em dois ou três anos já poderemos nos apropriar desse rótulo. Temos muita coisa pronta, só é preciso juntar tudo", afirmou.

TENDÊNCIA MUNDIAL
O pesquisador do Instituto Copenhagen, o dinamarquês Peter Kronstrøm, que estuda macrotendências, esteve em Londrina recentemente como uma das atrações do ECO.TIC e falou sobre smart cities. Para ele, ao iniciar as ações para se tornar uma cidade inteligente, Londrina passa a ser protagonista do futuro e não vítima dele. "Temos hoje a oportunidade de prever e se preparar para o futuro das cidades a partir do conhecimento e da tecnologia que já temos. É uma grande oportunidade e uma grande responsabilidade", ressaltou.

Segundo Kronstrøm, a cidade inteligente é uma tendência da qual não se pode fugir. É preciso entender as forças que estão mudando o futuro para poder planejá-lo. "A tecnologia nos fará mais fortes e precisamos dela para aumentar nossa capacidade de água, de energia e outras áreas que vão sofrer muita pressão com o aumento da urbanização no futuro", afirma. Segundo ele, a produção de energia por sistemas de placas fotovoltaicas nas residências, por exemplo, será inevitável nas cidades do futuro. "Com um telhado que produz energia, o consumidor vira coprodutor de energia. Isso já está mudando o setor de energia e também vai mudar a sociedade", prevê.

PROJETO DE MOBILIDADE
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Norte do Paraná (Sinduscon-Norte/PR), Rodrigo Zacaria, diz que tem participado ativamente de todos os debates sobre Smart City realizados em Londrina. Ele aponta que trata-se de um tema complexo e, antes de qualquer tipo de ação, é necessário primeiro traçar um planejamento de onde se quer chegar. Segundo Zacaria, entidades como o Sebrae/PR e Senai estão auxiliando as lideranças neste projeto de transformar Londrina em uma cidade inteligente. "Temos tentado contribuir ao máximo nas discussões", afirma. Na avaliação dele, a principal necessidade neste momento, em que o município discute a revisão do Plano Diretor, é pensar em um projeto de mobilidade.