O agrônomo Wilian Ricce, pesquisador da Agroconsult, sentencia. ‘‘Pelo risco que calculamos, é inviável. Não tem como ter uma produção comercial de café no Sul do Estado.’’ A avaliação mostrada no mapa desta página sugere que as cidades em verde são aquelas próprias para o cultivo de café, pois sofrem geadas esporádicas: no máximo uma a cada quatro anos.
  O bancário Omar Cezario não leu as regras e tampouco o estudo de Ricce. Nos anos 1970, trabalhava como instrutor de crédito rural do hoje extinto Bamerindus. Por isso, viajava com freqüência ao Norte do Estado. Veio para Curitiba com o pai Odilon, com quem vivia em Jaguapitã. Em uma das viagens ao Norte, o pai lhe fez um pedido especial: que lhe trouxesse pés de café na bagagem. O pedido que muitos levariam com assombro, Cezario levou com naturalidade e, de Marialva, trouxe ‘‘trinta e poucas mudas’’.
  Plantadas no final dos anos 1970 no fundo da casa em que viviam na Rua Augusto Severo, no Centro Cívico, nem todas sobreviveram. ‘‘Conforme a geada, queimava um pouco. Mas os prédios em redor as protegiam’’, explica Cezario.
  O pai, Odilon, faleceu há seis anos, com 96. Até os 90, cuidava dos 12 pés de café sobreviventes e hoje um tanto abandonados. ‘‘Tomei café de lá por muitos anos. Depois da morte do pai, deixei um pouco de lado. Quem mora lá hoje é meu sobrinho.’’
  Cezario, 68, explica que colhia café todos os anos, mas, em 2007, teve uma surpresa. ‘‘Quando fui colher, já tinham feito o trabalho para mim. Alguém entrou na casa e levou toda a produção.’’
  O trabalho do sobrinho Dilvan Gracino, neto dos músicos Belarmino e Gabriela, é de cortar os pés, que, quando ficam muito grandes, riscam os carros. ‘‘Ah, mas se ele plantava para consumo próprio e em uma área protegida eu até acredito. Quero ver ele plantar um hectare inteiro’’, brinca o agrônomo Ricce. (R.U.)