Várias redes de mercados de produtos brasileiros (onde é possível encontrar todo tipo de mercadoria, como feijão, goiabada, panetone, cerveja, guaraná, revistas e até filmes em DVD), restaurantes que servem feijoada, churrascarias, marmitex, cabeleireiros, perfumes e roupas made in Brazil, cursos para tirar carteira de motorista no Japão, escolas onde se fala e ensina português, dois jornais semanais com notícias da comunidade, campeonato de futsal, danceteria, karaokê com sertanejo e pagode e até organizadores de festas infantis e concursos de beleza. Estes são exemplos da estrutura encontrada pelos dekasseguis que moram na região que abrange as províncias de Aichi e Shizuoka, onde se concentra mais da metade dos brasileiros no Japão.
  Com tudo isso, aliado ao desconhecimento da língua japonesa pela grande maioria dos quase 320 mil dekasseguis, pode-se dizer que boa parte da comunidade brasileira no arquipélago vive em um Brasil à parte, só se relacionando com os japoneses quando estritamente necessário. Mesmo nestes casos, eles são assessorados por encarregados das empreiteiras, que intermedeiam as relações e atuam como tradutores. Além disso, grandes fábricas chegam a ter centenas de brasileiros em suas linhas de montagem, levando muitos a não se relacionarem com os japoneses nem em seu ambiente de trabalho.
  Essa segregação é um expoente de como o nikkei, chamado de japonês aqui, descobre-se brasileiro no Japão. Mas, se por um lado toda essa estrutura contribuiu para melhorar as condições de vida e a adaptação dos brasileiros à nova realidade, também gerou um comodismo em relação ao idioma e um distanciamento da sociedade local, contribuindo para dificultar ainda mais a aceitação dos japoneses a essa classe de estrangeiros.
  Em sua dissertação de mestrado intitulada ‘‘Japoneses aqui, brasileiros lá?: uma leitura sobre (e dos) dekasseguis’’, o geógrafo Milton Saito conclui que, em geral, os nikkeis que dominam bem a língua japonesa conseguem uma melhor adaptação à nova realidade. ‘‘Em função do domínio do idioma, interesses pela cultura e outros, conseguem, além da adaptação, cumprir suas metas financeiras e outros objetivos, dentre os quais, de ascensão e inserção na sociedade japonesa’’, revela.
  A questão tem preocupado até o governo japonês, que já estuda exigir um nível mínimo de conhecimento do idioma para conceder e renovar vistos de trabalho aos estrangeiros.