Ele tem 89 anos, mas a disposição é tamanha que nem parece. Kotaro Takahashi, um japonês que está há 74 anos no Brasil, é o integrante mais velho da turma que participou da Caminhada Internacional que recordou os passou dos primeiros nipônicos em solo brasileiro, realizada entre 12 e 15 de junho.
  Partindo do Porto de Santos, onde o Kasato Maru atracou para os japoneses desembarcarem na nova terra, um grupo subiu a Serra do Mar e caminhou até a capital paulista.
  A reportagem da FOLHA encontrou Takahashi em uma fria manhã de domingo. O relógio não apontava nem 7h e ele estava lá, na praça do bairro da Liberdade, em São Paulo (SP), pronto para começar a caminhada de 9 km que um grupo de japoneses e nisseis realiza, todo domingo, desde 1997.
  A entrevista foi realizada no ritmo dos passos ligeiros do imigrante que perdeu os pais ainda criança e criou os dois irmãos mais novos e os cinco filhos com o dinheiro conquistado na lavoura de algodão.
  Ativo e com sede de saber. Com mais de 60 anos foi cursar Serviço Social na Universidade de São Paulo (USP). ‘‘Era só de brincadeira. Nem terminei o curso. Português é muito difícil’’, comenta. Algum tempo depois, com mais de 70, foi trabalhar no Consulado Japonês em São Paulo. ‘‘Trabalhar é bom’’, simplifica.
  Um passo atrás do outro, respiração compassada. ‘‘Participei da Caminhada Internacional como forma de agradecer. Minha família toda tem muita saúde.’’ E ninguém acompanha o homem.
  No ombro, uma bolsa dessas de carteiro. Água? Isotônico? Que nada. Ele carrega jornais e livros de Haicai. ‘‘É para ler sempre que dá.’’
  Bem humorado, bom de conversa, apaixonado por caminhadas e feliz por causa de uma coisa tão simples, que ele explicou assim ao se despedir para continuar caminhando: ‘‘É a primeira vez que alguém faz reportagem comigo’’. n