Imagem ilustrativa da imagem Educação: propostas pedagógicas



Está aberta a temporada de matrículas nas escolas de todo o País. O momento é oportuno para que os pais conheçam as escolas e avaliem qual delas está mais próxima de suas expectativas. Isso porque há uma série de metodologias e formas de aplicação do conhecimento, que diferem nas propostas de uma escola para outra e têm influência na formação dos alunos.

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) estabelece nos seus princípios que o ensino deve ser oferecido com base no pluralismo de ideias e de correntes pedagógicas. Na prática, significa que a lei garante autonomia às redes de ensino e às escolas no que diz respeito a sua estrutura organizacional e curricular. Claro, elas devem estar de acordo com as normas previstas pelo Ministério da Educação, mas dentro desse contexto têm liberdade para definir, por exemplo, o seu projeto pedagógico.

De acordo com a professora do departamento de Educação da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Adriana Regina de Jesus Santos, as principais tendências pedagógicas usadas na educação brasileira atualmente se dividem em: tradicional, tecnicista, humanista e reconstrucionista.

TRADICIONAL
A tendência tradicional está no grupo das tendências liberais e foi a primeira a ser instituída no Brasil. Nela, o professor é a figura central e o aluno é um receptor passivo dos conhecimentos considerados como verdades absolutas. "A escola tradicional considera que o núcleo da educação é o currículo: matemática, história, ciências. É voltada para uma formação científica. As disciplinas clássicas são consideradas fundamentais à construção do conhecimento", resume Santos.

TECNICISTA
Na perspectiva da corrente tecnicista, ou tecnológica, a educação consiste na transmissão de conhecimentos, comportamentos éticos, práticas sociais e habilidades que propiciem o controle social. "Assim como a tradicional, a tecnológica é uma tendência liberal. A diferença é que essa oferece uma formação voltada para o mercado de trabalho", esclarece Santos. Segundo ela, na tendência tecnicista, o aprendizado também é moldado pelo professor. "Ao aluno, agente passivo, cabe absorver a eficiência técnica, atingindo os objetivos propostos", acrescenta.

HUMANISTA
Já a tendência humanística, também chamada de Escola Nova, tem um método centrado no aluno e defende um currículo que leva em consideração a realidade desse aluno. "A atenção do conteúdo disciplinar se desloca para o aluno, que é visto como um ser individual, com uma identidade pessoal que precisa ser descoberta e construída. O currículo busca desenvolver a consciência para a libertação e autorrealização, num processo conduzido pelo próprio aluno com auxílio do professor", explica. Segundo ela, metodologias como Waldorf, Montessori, Piaget se enquadram na tendência humanística.

RECONSTRUCIONISTA
A tendência reconstrucionista, ou histórico-crítica, tem um foco progressista. A concepção teórica e metodológica tem como objetivo principal a formação crítica do aluno e a transformação social. "Essa tendência considera que a sociedade injusta e alienada pode ser transformada à medida que o homem adquire consciência crítica para assumir-se sujeito do próprio destino", explica Santos. "Nas diretrizes curriculares, as escolas estaduais do Paraná adotam essa tendência, mas na prática o ensino no Estado acaba sendo mais tecnicista", pondera.

Imagem ilustrativa da imagem Educação: propostas pedagógicas
| Foto: Shutterstock



Tecnologia favorece mistura de correntes pedagógicas
Algumas escolas têm práticas com características de várias correntes pedagógicas, enquanto outras seguem um único modelo. Para a professora do departamento de Educação da UEL, Adriana Regina de Jesus Santos, misturar as concepções de diferentes tendências, como acaba acontecendo nas escolas estaduais paranaenses, não é bom para a formação do aluno. "Aí está o problema do ensino, não tem foco, não tem uma diretriz para seguir. Cada concepção dessas pensa num homem diferente e a escola precisa saber qual delas quer formar, porque quem não sabe para onde quer ir qualquer caminho serve", analisa.

Essa imprecisão na definição do caminho a seguir, segundo a professora, é resultado da formação falha dos professores. "No curso de pedagogia, o aluno tem contato com todas as correntes. O problema são os outros cursos de licenciatura, que têm uma carga horária muito pequena de didática e acabam não conhecendo os fundamentos filosóficos", argumenta.

Para a diretora pedagógica do Colégio Universitário, Raquel Calil Ruy, o motivo dessa mistura é mais complexo que isso. "A academia tem linhas bem definidas, mas não dá pra seguir isso literalmente na prática. O mundo está em transformação e nós temos que nos adaptar, claro, sem fazer bobagens", argumenta. Segundo Raquel, a linha pedagógica que estrutura o projeto político-pedagógico do Universitário é o sociointeracionismo, que vincula o desenvolvimento humano ao contexto cultural no qual o indivíduo se insere e à influência que o ambiente exerce sobre a formação psicológica desse indivíduo. Mas, o colégio também explora alguns elementos de outras teorias. "Hoje falamos muito em uma metodologia híbrida: mesclamos um pouco da linha tradicional, em algumas situações temos um pouco do construtivismo", explica.

Na prática, esse hibridismo tem sido promovido principalmente pela tecnologia. Os alunos têm acesso a uma plataforma, com videoaula, questões e jogos. O professor tem acesso ao desempenho dos alunos nessa plataforma, podendo verificar suas dificuldades e trabalhá-las coletivamente ou individualmente. "Não somos só da linha tradicional, porque temos aulas expositivas, mas também temos momentos construtivistas, em que o aluno é protagonista e o professor apenas um mediador, como nos projetos de iniciação científica", exemplifica a diretora. (J.G.)

Ensino-aprendizagem na prática
O Colégio de Aplicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) adota a metodologia histórico-crítica. De acordo com o diretor da instituição, Edmilson Lenardão, ali, o desenvolvimento do aluno se dá a partir da socialização do conhecimento já produzido pela humanidade. "Na prática, nós temos atividades extracurriculares reduzidas porque priorizamos o conteúdo, a sala de aula, para que o planejamento seja rigorosamente cumprido pelo professor", explica.
Assim, os passeios, projetos, oficinas, semanas culturais são pouco presentes na rotina dos alunos do Aplicação, o que acaba sendo uma crítica frequente à metodologia. Crítica que Lenardão responde com um exemplo prático. "Muitas escolas fazem visitas ao Planetário. Nossos alunos chegam lá e já identificam os planetas, o movimento rotacional, porque eles já têm o conhecimento científico. Se vão ao museu, eles já conhecem a obra que está lá porque a escola fornece o conhecimento necessário para o mundo que eles vão se deparar. Não os deixamos livres para decidir o que querem aprender", afirma.

Já no centro de educação infantil Jardim Alvorecer, que utiliza a Pedagogia Waldorf, que segue a tendência humanista, o objetivo principal é desenvolver a autonomia dos alunos. "A Waldorf trabalha para desenvolver o ser humano e propiciar que ele mesmo busque o conhecimento. Por isso, não trabalha só o intelecto, mas o espírito, as vontades, as necessidades e deficiências do aluno", explica Fred Zanetti, membro da associação mantenedora da escola e pai de dois alunos.

Segundo ele, a principal diferença de uma escola que adota a pedagogia Waldorf está no papel desenvolvido pelo professor. "O professor é um mediador. Em vez de transmitir um conhecimento, ele vai criar situações em que os alunos possam observar esse conhecimento e tirar suas próprias conclusões. São aulas empíricas", conta. Somente no Ensino Médio é que esses alunos vão ter contato com teorias e fórmulas. (J.G.)