Diariamente, alunos do mundo todo sofrem algum tipo de violência física ou psicológica dentro das escolas. Tal prática é caracterizada como bullying. E, apesar de o tema ser bastante conhecido, ainda hoje é motivo de muita preocupação de pais e instituições de ensino. Para fundamentar as ações do Ministério da Educação e das secretarias estaduais e municipais de Educação sobre o problema, em fevereiro deste ano, passou a vigorar no Brasil a Lei N° 13.185, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática.
O texto considera bullying "todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas". A legislação determina que escolas e clubes desenvolvam ações de prevenção e combate à prática, capacitem docentes e equipes pedagógicas, promovam campanhas de conscientização, entre outras medidas.
A psicopedagoga Ana Regina Caminha Braga, que é especialista em educação especial e em gestão escolar e mestre em educação, explica que a lei é importante, mas não tem cunho punitivo. "Apesar de estarmos mais conscientes, o problema ainda é preocupante. Os pais precisam conversar com seus filhos e explicar a eles que situações que fogem do padrão devem ser comunicadas, pois eles podem ajudá-los", afirma. Já as escolas, segundo a psicopedagoga, devem desenvolver atividades, projetos, campanhas e palestras para discutir o assunto e conscientizar os alunos sobre os danos da prática que, muitas vezes, é disfarçada de "brincadeira".
Na avaliação do psicólogo Fernando Barroso Zanluchi, especialista em psicologia clínica e psicanálise, mestre em Educação e terapeuta familiar, o bullying está cada vez mais presente nas escolas. Segundo ele, o número de filhos reduzido por casal faz com que as crianças de hoje vivam uma espécie de "reinado". "Elas não são acostumadas a dividir a atenção, não são testadas em suas competências e possuem uma relação social limitada", aponta. E quando vão para a escola, essas crianças precisam aprender a dividir, esperar a vez, ou se deparam com um coleguinha que é mais inteligente, rico ou popular. "Elas não estão preparadas para lidar com isso. Ficam mais frágeis emocionalmente e se dividem em dois grupos: agressores e agredidos", diz.
Zanluchi afirma que o agressor é aquele com a autoestima baixa. "Para exorcizar seus medos, procura alguém mais fraco do que ele. É o valentão do grupo, que precisa encontrar alguém para humilhar", descreve. Segundo o psicólogo, crianças mais imaturas emocionalmente têm mais chances de apresentar esse tipo de comportamento.

"As instituições de ensino precisam entender que possuem um papel muito maior na formação moral e social do que intelectual dos alunos"
"As instituições de ensino precisam entender que possuem um papel muito maior na formação moral e social do que intelectual dos alunos" | Foto: Shutterstock



FIQUE ATENTO AOS SINAIS
Pais e escola devem ficar atentos aos sinais que as crianças apresentam quando estão sendo vítimas de bullying. A psicopedagoga Ana Regina Caminha Braga alerta que a primeira mudança é no comportamento. "A criança fica retraída ou agressiva, chora, demonstra medo, não quer ir para a escola nem participar do intervalo ou fazer atividades em grupo", cita.
Fernando Zanluchi elenca também outros sinais, como tristeza e apatia. "A criança fica deprimida, porque está sendo excluída. Cria aversão pela escola. Pode chegar em casa com a roupa rasgada, ou dizer aos pais que perdeu objetos que na verdade foram roubados pelos colegas", alerta. O psicólogo lembra que o bullying sempre existiu e a sociedade não pode fazer vistas grossas para o problema. "Os sinais são aparentes e é pior quando não queremos enxergá-los."
Segundo ele, os pais devem conversar com os filhos não só sobre o dever de casa, mas sobre tudo o que se passa no ambiente escolar. "A escola é o maior centro de convivência social. É lá que a criança desenvolve a autoestima, segurança e onde acontece a interação em grupo", afirma. Esse cuidado é muito importante porque nem sempre os filhos falam sobre o assunto, às vezes são reprimidos ou coagidos pelos agressores.
"A família precisa manter um bom diálogo com a criança, acompanhar o comportamento dela e investigar quando percebe algo diferente", recomenda a psicopedagoga Ana Regina Caminha Braga. Já a escola, segundo a especialista, deve orientar os estudantes sobre os danos da prática, verificar a qualidade dos momentos de intervalo, como é feita a socialização, e ficar atenta a situações diferentes.