‘‘Meus filhos foram indo, cada um cuidar de sua vida. E eu fiquei sozinha e a solidão é muito dolorosa, muito triste. Durante o dia eu saio, sempre tenho alguma coisa para fazer. Mas à noite a solidão é esmagante.’’
Libriana Carente
  Às sextas, sábados e domingos acontece o Clube dos Solitários: em nome do amor. Lá, librianas carentes, leões solitários e geminianos à procura se encontram. Nas sextas-feiras, tem aula de dança. Neiva de Fátima, 49 anos, coordena o grupo de professores voluntários. ‘‘Hoje, as mulheres estão muito mais atacadas e chegam junto nos homens’’, conta a professora que também conheceu seu marido ali, em 2004. ‘‘Eu cheguei para ele, que tem a metade da minha idade, e disse: ‘Dançamos de um jeito parecido. Vamos fazer isso juntos?’.’’
  Marcos Pauli de Lima, 25, não se incomoda com a diferença de idade. Neiva pensa diferente. ‘‘Uma vez uma moça deu em cima dele. Fui tirar satisfação e ela me pediu desculpas, pois achou que eu era a mãe.’’
  Lima é um dos tantos jovens no baile. Ainda que a média de idade passe com tranqüilidade dos 40, a juventude vai em peso. ‘‘Tá dando muita rapaziada porque danceteria não tem tanto contato físico’’, explica. Ele se dá bem com a família de Neiva. A professora já arrumou esposa para o irmão e para um de seus filhos no baile. E ali aconteceu o noivado e o chá de bebê, além de outros 800 casamentos. No Clube dos Solitários, os casais dançam coladinhos no vanerão, bolero e forró.
  O encontro das idades é freqüente. No canto do salão, um rapaz com vinte e muitos poucos anos está de lero-lero com uma senhora com mais de 70. ‘‘Eles estão juntos há três meses. E ela está chateada porque o viu dançando com uma moça’’, diz o sorridente Mauro dos Santos, 42, que conheceu a namorada Rosalda Boulade, 45, no baile há cinco anos. Juntos, acompanharam no salão um dos momentos mais engraçados de suas vidas. ‘‘Você não consegue imaginar o que foi ver uma mulher se jogar no chão e sair de gatinho, se arrastando de mansinho por baixo das mesas até a saída. Acho que estava se escondendo do marido ou do filho. Sempre damos risada quando lembramos’’, conta Santos, que se considera um pé de valsa. (R.U.)