Imagem ilustrativa da imagem Viva, João!
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Olá, João. Fiquei muito feliz com a notícia do seu nascimento. A palavra notícia me faz lembrar a palavra jornal; e a palavra jornal me faz lembrar o seu avô, que Londrina conheceu tão bem. Eu fui um dos "velhacos", um dos "cumunistas" que trabalharam com ele. Eis-me aqui, trabalhando no mesmo jornal, tantos anos depois. Deixei de ser velhaco, estou mais velho. E não sou mais comunista, só colunista.

Uma nova vida é sempre a melhor notícia que um jornalista pode dar. Ao contemplar a imagem do seu rostinho na maternidade — que alegria a dos jovens pais! —, imaginei como seria a felicidade do velho João em carregá-lo nos braços. Pensando nele, escrevo estas palavras.

João, saiba que o seu avô e xará chegou a Londrina há exatamente 70 anos, em 1947. Nas mãos, uma valise; no coração, um sonho. Posso ver João desembarcando na antiga estação ferroviária e sentindo no ar a poeira vermelha onipresente, admirando o céu de um azul espetacular, procurando um hotel de viajantes. Aqui, finalmente, João encontrou o seu lugar.

No Sul, de onde veio, João já havia construído casas de madeira, fabricado sapatos e trabalhado numa sombria mina de carvão em Criciúma. Agora, no Norte do Paraná, teve uma ideia que a muitos pareceu loucura: fazer um jornal. Mas como? Um jornal nessa terra onde poucos sabem ler, e muitos sequer falam o português? Sim, um jornal. Porque uma aventura tão grande merece ser contada em letras de forma. Sim, uma loucura. Porque todo pioneiro precisa ter uma dose de insanidade.

João, João. Lembro-me de seu avô entrando na redação, sempre de terno e gravata — exceto aos sábados, quando usava camisas estampadas —, e fazendo a habitual saudação aos repórteres e editores:

— Viva, viva! Como é que vai, vereador? E você, magrela?

Algumas expressões sempre vão me fazer lembrar o velho João: velhaco, "cumunista", vereador, magrela, desgracido. Esta última expressão eu viria a encontrar nos contos de Dalton Trevisan. Algo em comum entre uma lenda de Curitiba e uma lenda de Londrina.

Muitas vezes fiquei bravo com seu avô, João. É que antigamente eu era, de fato, um "cumunista", e tinha um forte preconceito contra alguém que muitos chamavam simplesmente de "Patrão". Foi preciso crescer um pouco e abandonar antigas ilusões para entender como aquele homem era fascinante, mesmo com todos os poréns. Após muita dor e confusão, eu aprenderia que amar alguém é, de certo modo, amar inclusive os seus defeitos.

Lembro-me de nossa última conversa. Ele falou sobre a vida, o jornal, o futuro. Disse-me palavras de estímulo que jamais esquecerei. Propus que se escrevesse um livro sobre sua vida. Ele disse que não, "isso é muita vaidade".

Agora não há mais vaidade, há saudade. E há a alegria de receber você no mundo, João. Se um dia alguém escrever um livro sobre o velho João, deveria começar com a cena do novo João, para lembrar o conselho entusiástico que vinha naquela antiga saudação:

— Viva!

E nós vivemos, João.

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