Imagem ilustrativa da imagem Um país chamado massacre
| Foto: Sejuc/AFP



Foi muito infeliz o presidente Michel Temer ao definir a chacina de presos em Manaus como "acidente pavoroso". Um homem com experiência e estudo não poderia jamais cometer semelhante gafe. Acidente, já ensinava S. Tomás de Aquino, é o que acontece a um sujeito sem ser exigido por sua essência. Horas depois da desastrada fala de Temer, um novo massacre de criminosos, em Roraima, veio a comprovar que o banho de sangue nada tinha de acidental. Um país onde ocorrem 60 mil homicídios por ano é, em si, um grande e devastadora chacina. A cada 24 horas, temos mais mortes violentas do que os massacres de Manaus e Boa Vista somados. Infelizmente, o homicídio está na essência do Brasil. Somos um país sequestrado; massacre é o nosso sobrenome.

Não foi acidental, tampouco uma fatalidade, o sequestro, tortura e morte de um adolescente de 16 anos, em Umuarama. O caso (realmente pavoroso, presidente) ocorreu na última quarta-feira. Filho de um policial militar, o jovem estava sozinho em casa quando três bandidos invadiram a residência para fazer um assalto. Não contentes com o produto do roubo, fugiram com o carro da família, levando o rapaz. Foi conduzido a um antigo curtume, onde os bandidos o submeteram a torturas antes de matá-lo a facadas.

Meu amigo Marcos Ursi, professor de história, teria esse jovem entre os seus alunos em 2017. "Era um menino, um menino, estamos profundamente chocados", disse Marcão. Penso na dor do pai, da mãe, do irmão, dos avós e dos amigos do jovem, querido por todos que o conheciam na cidade paranaense. Olho para a foto dele e vejo um menino — que poderia ser meu filho. É por vítimas como ele que a sociedade brasileira precisa se unir na luta contra os criminosos e suas babás ideológicas.

Entre todas as categorias de trabalhadores, a Polícia Militar é de longe a mais visada pelas organizações criminosas, inclusive aquelas que eventualmente ocupam o governo. Em média, 500 PMs são mortos por ano no Brasil. Para cada policial morto, há dois ou três sequelados. Se isso não é uma chacina pavorosa, eu não sei o que pode ser. Como se viu no caso de Umuarama, até os familiares dos policiais hoje carecem de segurança. Não raramente, os matadores de policiais exibem suas mortes como um troféu no ambiente carcerário, galgando postos na hierarquia do crime e fortalecendo as mesmas organizações que promoveram os banhos de sangue em Manaus e Boa Vista.

Não festejo, mas também não pranteio as mortes nas chacinas penitenciárias. Os corações arrancados dos presos em Boa Vista não são apenas um sinal demoníaco entre os bandidos; aqueles corações estão sendo exibidos como uma advertência para nós.

A chacina que me preocupa é aquela que está em nosso cotidiano de cidadãos supostamente livres. Ao contrário do que dizem os "especialistas" e pichadores de muro, não há "gente demais presa" no Brasil: há bandido demais solto. Apenas 8% dos autores de homicídios vão para a cadeia. Os outros 92% estão livres para matar os nossos filhos. Basta!

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