Imagem ilustrativa da imagem Um apaixonado por Londrina
| Foto: Reprodução



Se existe algo que me deixa feliz, é conhecer alguém apaixonado por Londrina. Dias atrás, fui procurado pela leitora Anne Elise Guimarães, que é funcionária da Sanepar em Curitiba. Ela me mostrou um pequeno tesouro familiar: um poema que seu avô, o sr. Levi Aguiar, escreveu há 25 anos, por ocasião do aniversário da cidade.

Levi Aguiar, aos 89 anos, é um daqueles pés-vermelhos de coração que nós tantas vezes encontramos, não apenas aqui, mas em quase todos os lugares. Nossa cidade deixa uma tatuagem no coração das pessoas — e poderíamos dizer, como alguém já disse de Minas Gerais: "Quem te conhece não esquece jamais".

Foi com essa alegria que tive a honra de tomar posse, na última quarta-feira, como membro do Conselho Municipal de Cultura, na cadeira de Patrimônio Cultural. Alegria só diminuída pelo fato de que 11 conselheiros eleitos, londrinenses também apaixonados pela cidade, não puderam tomar posse por razões que lamentavelmente ainda não foram esclarecidas.

Mas voltemos ao sr. Levi Aguiar. O poema que me foi mostrado por sua neta está em um velho caderno escolar, em bela caligrafia e português correto. Seu Levi utiliza versos heptassílabos e rimados para homenagear a cidade que tanto ama. Eis o poema de sete sílabas para meus sete leitores:

LONDRINA 1934-1992

Foi pousada de tropeiros
À margem do Rio Tibagi,
No mais a doce magia
Da bucólica poesia
Do chão vermelho daqui.
Outrora risonha aldeia,
Nas noites de lua cheia,
Sonhava sonhos de amor...
Após, as grandes caçadas
Desde a luz das alvoradas,
Às horas de o sol se pôr!
Amanhecendo festiva,
Buliçosa e rediviva,
Nos verdes cafezais.
Lá se vai tudo acordando,
Quantas aves despertando
Em gorjeios matinais!
Enquanto o sol refletindo
Toda beleza — sorrindo,
Na água clara — o azul do céu.
A brisa embalando flores
Trepadeiras multicores
Abelhas fazendo mel.
Dentro ou fora do rio
O mundo ecoa um assovio,
Pulula a vida, a grandeza...
No horizonte — a cerração,

Qual cortinas de algodão,
De imensa paz e pureza.
Tudo pois convidativo,
Cativante, afirmativo,
Mais e mais e sempre assim;
Num crescendo fascinante
Atraindo o viandante
Ao paraíso jardim!
Novos ranchos, nova gente,
Vão surgindo de repente,
Caldeando um povo audaz.
Num só povo, um povo só,
Branco, negro, pataxó,
E a nova raça se faz!
Nasceu esta cidade abençoada,
Que aquele povo inspirada
Descendo montes com amor,
Por entre vales e serras,
Começou ver as férteis terras
Que lhe mostrara o Senhor!
Assim nasceu Londrina
Graças a um povo de fé,
Sendo mais tarde a menina
Cognominada Capital Mundial do Café.
Tal qual Moisés intuindo,
Seu povo foi conduzindo
À terra da promissão;
De beleza inconteste,
Tornou-se alviceleste
Honra e glória do Sertão!



(Levi Aguiar, 10-12-92)