Imagem ilustrativa da imagem Trinta anos este poeta
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No dia 5 de agosto de 1987, morreu no Rio de Janeiro a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade, filha do maior poeta brasileiro. Ao receber a notícia, Carlos disse ao médico que o atendia:
— Doutor, receite-me um infarto fulminante.
Aos 85 anos, Carlos Drummond de Andrade desistiu de viver, devastado pela partida da filha querida, a quem chamava de seu "melhor poema". Apenas doze dias separaram as mortes de Maria Julieta e Carlos.
Eu me lembro claramente do dia em que Drummond morreu. Naquela época, não havia internet; recebíamos as notícias pelo jornal da manhã. Eu fazia o terceiro ano colegial no Anglo de Araçatuba. Era um dia claro de agosto, como costumam ser os agostos do falso inverno no interior paulista. Eu estava silencioso, sentado no jardim no colégio, quando minha querida amiga e colega de classe Caroline Marques veio perguntar o motivo da minha tristeza. Respondi:
— É que morreu um conterrâneo seu, Carol. Um grande conterrâneo.
E pensei nos versos de Elegia:
"Ganhei (perdi) meu dia.
E baixa a coisa fria
Também chamada noite, e o frio ao frio
em bruma se entrelaça, num suspiro."
Então nós dois choramos a morte de Carlos. Nossas vidas nunca mais seriam as mesmas, porque havíamos sido educados ouvindo os poemas de Drummond, que gostávamos de recitar sempre, nas mais variadas circunstâncias.
De repente, dou-me conta: já faz 30 anos que Carlos morreu! Seus poemas nos acompanham até hoje. Pois o poeta, ao contrário do que se imagina, não é um habitante das nuvens, mas aquele que enxerga a realidade profunda da história e da eternidade.
Carlos nos ensinou que lutar com as palavras, embora pareça a luta mais vã, consiste no pão nosso de cada dia, sem o qual não podemos sobreviver. Tantas vezes nos sentimos como o personagem daquele que talvez seja o seu mais popular poema, transformado em música para os nossos ouvidos, uma canção que pergunta: "E agora, José?"
Em vários momentos destes 30 anos sem o poeta, ele me consolou com versos que ecoavam minha perplexidade:
"Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor."
Nos melhores versos de Carlos, vemos a imagem profética das dificuldades que o Brasil viria a enfrentar depois que ele partiu.
Nem mesmo a sua estátua, na praia de Copacabana, ficou imune aos que vandalizam o País: os óculos do poeta foram roubados inúmeras vezes.
O ápice da poesia drummondiana, em minha opinião, encontra-se no livro "Claro Enigma", publicado em 1951. Os dois últimos poemas da obra — "A máquina do mundo" e "Relógio do Rosário" — poderiam figurar em qualquer antologia da literatura universal.
Obrigado, Carlos. Por tudo que você fez nestes 30 anos e antes deles.

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