Imagem ilustrativa da imagem SOS Londrina
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Certa vez Jesus encontrou um menino possuído por um demônio mudo. Os pais, desesperados, suplicaram ao mestre para que libertasse o filho de tão terrível sofrimento. Tomado de compaixão pela família e ira contra o demônio, ele exorcizou o menino, salvando assim a sua alma. O menino voltou a viver — e também a falar.

Todos os dias eu peço a Deus que não me deixe ser tomado pelo demônio mudo: aquele espírito de omissão que nos silencia diante do intolerável. Acho que minhas preces foram ouvidas, pois sinto que não posso me calar face ao que vem acontecendo em nossa cidade.

Mais dois pais de família foram assaltados nos últimos dias. Não declinarei os seus nomes aqui, mas garanto que são dois homens íntegros que trabalharam a vida inteira em prol da nossa comunidade. Por uma triste coincidência, ambos são netos das primeiras famílias que chegaram a Londrina, quando todos eram pobres, comiam farinha e rapadura, sofriam com as doenças tropicais e moravam em casas de madeira.

Como tantos outros, eles não foram apenas assaltados. Tiveram suas casas invadidas; ficaram sob a mira de revólveres; foram humilhados, agredidos, ameaçados e finalmente roubados. O que menos conta aqui é o produto do roubo; realmente grave e intolerável é ter a vida de seus familiares nas mãos de bandidos.

Como já se disse, a meu ver corretamente, um assaltante não leva apenas dinheiro e mercadorias. Ele leva a nossa paz. Ele pisa em tudo aquilo que nos é mais precioso. Movido pela inveja (sentimento que os doutos marxistas enaltecem como "luta de classes"), o bandido fere o âmago do nosso ser.

Alguém pode objetar: — Você está dizendo isso apenas porque são seus amigos!

É claro que o drama de amigos me comove profundamente. Mas o agente penitenciário que perdeu a vida no último Natal não era meu amigo. Os jovens que morrem diariamente na guerra do tráfico não são meus amigos. Os donos e clientes de quitandas, farmácias, lojas e supermercados de periferia assaltados diariamente não são meus amigos. As dezenas de pessoas que todos os dias relatam roubos, assaltos e agressões nas redes sociais, na maioria das vezes, não são meus amigos. São meus amigos, admito, o casal de idosos que teve o carro baleado pouco antes do Natal. Mas isso não tem a ver com amizade, tem a ver com humanidade. E também com impunidade.

Solto este grito solitário na esperança de que Londrina, a nossa amada terra, acorde para a realidade que estamos vivendo. A segurança pública é um caso de polícia, mas também de política. Aos policiais, devemos dar apoio. Dos políticos, devemos exigir ação. Queremos uma polícia mais aparelhada e leis mais severas.

A sigla SOS significa em inglês "save our souls". Salve nossas almas. É o grito que os londrinenses precisam dar agora, para que a nossa paz não seja definitivamente roubada.

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