Saudades de João Paulo II
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
por Paulo Briguet
Seu Manuel, o porteiro, tem um pequeno envelope nas mãos. Com um sorriso, ele me informa:
Acho que é livro, Paulo.
O envelope só tem o meu nome, escrito à mão. Nenhuma indicação do remetente. Seu Manuel não sabe me dizer quem o deixou.
Em casa, abro cuidadosamente o envelope. Seu Manuel tinha razão: é um livro. Um pequeno livro sobre um grande homem: "Uma Vida com Karol Memórias do Secretário Particular de João Paulo II". Que alegria!
Quem me enviou este livro parece ter tido acesso direto aos meus pensamentos nos últimos dias. Começo imediatamente a lê-lo. Escrito em linguagem clara e despretensiosa, ao sabor das recordações, o pequeno volume é na verdade um depoimento do cardeal polonês Stanislaw Dziwisz ao jornalista italiano Gian Franco Svidercoschi. Stanislaw foi o braço direito de Karol Wojtyla por 39 anos 12 em Cracóvia, 27 no Vaticano.
Percebo, logo nas primeiras páginas, tratar-se uma obra marcada pelo sentimento de saudade. Grandes livros foram escritos assim: Platão sentia saudade de Sócrates, São João sentia saudade de Jesus, e assim por diante... A presença de João Paulo II, um dos maiores homens do nosso tempo, chega a ser quase palpável no decorrer do livro.
Lendo sobre as façanhas do papa que enfrentou (e venceu) o comunismo soviético, que lutou obstinadamente em defesa da vida e da paz, que semeou a espiritualidade cristã em todos os continentes da Terra percebo então que também estou com saudade.
Em 1980, eu vi João Paulo II. Foi durante a primeira visita do pontífice ao Brasil. Eu era um menino de dez anos; estava, ao lado de meu pai, entre a multidão que o recebeu nas ruas de São Paulo. Karol Wojtyla passou no papa-móvel, acenando para o povo. Para mim, foi o suficiente: eu posso dizer que vi João de Deus.
Meses depois, no dia 13 de maio de 1981, o papa sofreu o atentado a tiros na Praça de São Pedro. As forças do mal conheciam o poder daquele homem e tentaram eliminá-lo. Quando, dois anos depois, o papa visitou seu Ali Agca na prisão, o atirador só fazia perguntar e exclamar: "Quem é Fátima para você? Eu atirei para matar!" João Paulo II nunca teve a mínima dúvida de que Nossa Senhora de Fátima o salvou naquele 13 de maio a mesma data da aparição de 1917.
Um dos episódios mais fascinantes da vida de João Paulo II foi a luta contra o comunismo ateu em sua pátria, a Polônia primeiro como arcebispo de Cracóvia, depois como chefe da Igreja Católica. A coragem e o equilíbrio daquele homem, diante de um sistema de poder desumano e capaz das piores atrocidades, servem de modelo para os dias que ora atravessamos. Nem por isso o papa polonês deixaria de criticar a desumanização e as injustiças causadas pelo materialismo ocidental, inimigo de toda transcendência.
Em 2018, completam-se 40 anos do conclave que elegeu João Paulo II. No momento em que o Brasil prende a respiração em dúvida quanto ao seu futuro, e em que os velhos inimigos da Igreja tentam enfraquecê-la para reinar sobre o povo, este cronista de sete leitores sente a necessidade de pedir em voz alta:
São João Paulo II, rogai por nós!