Imagem ilustrativa da imagem Raiz e Modinha
| Foto: Paulo Briguet



"Conservadorismo significa encontrar o que você ama e agir para proteger isso."
(Roger Scruton, filósofo inglês)

Um fantasma ronda a Internet — o fantasma Raiz x Modinha. Poderia ser apenas mais uma daquelas brincadeirinhas bobas que surgem e somem com a mesma rapidez nas redes sociais, porém esconde uma verdade profunda que mora dentro de nós: a relação com o passado.

Mas o que é, enfim, Raiz x Modinha? Segundo os praticantes da brincadeira virtual, todos os elementos da realidade possuem uma versão Raiz (que representa as características originais de alguém ou alguma coisa) e uma versão Modinha (resultante das distorções, deformações e acomodamentos com a passagem do tempo). Raiz é genuíno; Modinha é contrafação. Raiz é natural; Modinha é artificial. Raiz é autêntico; Modinha é pirata. Raiz é sincero; Modinha é polido. Raiz enfrenta as dificuldades; Modinha contorna-as. Raiz é uma força da natureza; Modinha é um produto da indústria. Raiz é amargo; Modinha é adocicado. As coisas tendem a começar como Raiz e terminar como Modinha; o caminho oposto é bem mais raro, embora ocorra.

Vamos a alguns exemplos. Criança que brincou de carrinho de rolimã é Raiz; criança que joga Minecraft é Modinha. Petista que fez piquete no ABC é Raiz; petista que virou na Lava Jato é Modinha. Milionário e José Rico é Raiz; dupla universitária é Modinha. Antônio Ermírio é Raiz; Eike é Modinha. Professor que ensina a matéria é Raiz; professor que faz doutrinação é Modinha. Padre que veste batina é Raiz; padre que anda na moda é Modinha. E assim a lista prossegue, infinitamente. Para cada pessoa, para cada lugar, para cada tempo, haverá um lado Raiz e um lado Modinha. E a habitual preferência pelo lado Raiz demonstra um aspecto inescapavelmente conservador na natureza humana.

Dias atrás eu mesmo fui "vítima" da brincadeira. Recebi pelo WhatsApp um quadro comparativo entre as duas fases de um famoso bar da vida noturna londrinense, ativo há quase 40 anos. Eu era apresentado como um dos personagens do referido bar. Na coluna Raiz, aparecia como "Briguet, meninão da esquerda caviar". Na coluna Modinha, figurava como "Briguet, tiozão da direita mortadela". Quase tive um troço de tanto dar risada. A diferenciação "caviar" e "mortadela" é perfeita, mas comigo houve uma curiosa inversão: o esquerdismo foi minha Modinha; o conservadorismo, minha Raiz.

Para finalizar, comunico a vocês que tenho em casa um cachorro Raiz. Meu vira-lata Cisco, resgatado da rua pela Rosângela há oito anos, tinha tudo para ser Modinha, mas continua enraizado em suas características selvagens: late para os outros cachorros, precisa brigar um pouco comigo antes de comer ração, considera-se guardião da casa; cava, rosna e pega bolinha. Cisco só é Modinha quando vem, todo simpático, me chamar para o passeio matinal: mas é um momento passageiro. Assim que voltamos da rua, ele volta a ser cão Raiz.

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