Querido Monsenhor Bernardo

| Foto: Gina Mardones/08-07-2017

"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados." (Mt 5,4)
Em sua magnífica obra "Jesus de Nazaré", o papa emérito Bento XVI diz que existem dois tipos de tristeza: "[Há] uma tristeza que perdeu a esperança, que já não confia no amor nem na verdade e que por isso desagrega e arruína o homem por dentro; mas também há a tristeza que vem do abalo, da comoção provocada pela verdade, que leva o homem à conversão, à resistência contra o mal".

Ao receber a notícia de que seria transferido do cargo de pároco da Catedral de Londrina, onde permaneceu por mais de 30 anos, realizando um belíssimo trabalho pastoral, o monsenhor Bernardo Gafa caiu em profunda tristeza. "Confesso que fiquei chocado. Chorei por dias seguidos", disse ele.

Tenho absoluta certeza de o monsenhor sentiu a tristeza do segundo tipo — aquela que mantém a esperança. É a tristeza de São Pedro quando ouviu o galo cantar pela terceira vez. É a tristeza do próprio Jesus no Horto das Oliveiras ("Minha alma está triste até a morte."). Mas é uma tristeza que abre caminho para a consolação: Pedro, que negou Cristo por três vezes, será perdoado; Cristo salvará a humanidade pela ressurreição — e a está salvando neste exato momento.

Londrina, hoje, chora junto com o monsenhor. Mas não podemos permitir que essa tristeza se transforme em raiva, em rebelião ou em desobediência. Pelo contrário, nossas lágrimas devem reafirmar a nossa esperança, os nossos princípios, a nossa fé.

Tenho a esperança de que o nosso novo arcebispo, D. Geremias Steinmetz, irá reconsiderar sua decisão, em nome de tudo que o monsenhor representa para nossa comunidade. De modo nenhum essa reconsideração prejudicará a autoridade do arcebispo, que é legítima e lhe foi conferida pela Igreja; pelo contrário, só a fortalecerá, aproximando-o de seu rebanho.

As normas da Igreja existem e devem ser respeitadas. Porém, há de se considerar que as normas foram feitas para as pessoas, e não as pessoas para as normas. Interromper o trabalho do monsenhor Bernardo a dois anos de sua aposentadoria não nos parece a melhor forma de aplicar o espírito da lei.

Quando D. Geremias chegou a Londrina, meses atrás, deve ter sentido o carinho e o acolhimento que caracterizam o povo desta terra. Esse acolhimento, no entanto, fundamenta-se no profundo respeito às pessoas que ajudaram a construir o sonho chamado Londrina. Entre elas, avulta a figura do nosso querido monsenhor Bernardo.

Nem todos sabem, mas Bernard Carmel Gafa decidiu deixar a sua Ilha de Malta ainda muito jovem, há mais de 50 anos, depois de ouvir uma palestra do nosso primeiro arcebispo, Dom Geraldo Fernandes. Cruzou o oceano e encontrou, na cidade da terra vermelha e do céu azul, uma nova pátria. Sem dúvida alguma, Dom Geraldo e Madre Leônia devem estar agora, lá na pátria eterna do Céu, intercedendo pelo seu querido amigo.

Este cronista de sete leitores tem a firme esperança de que uma história que começou tão lindamente terminará de forma digna — com respeito, sabedoria e, acima de tudo, caridade.

"Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração." (Mt 6,21)