O teatro londrinense está em luto com a morte de Paulo Braz. Paulinho partiu muito cedo, aos 48 anos, durante o Festival Internacional de Londrina, ao qual ele dedicou tantos anos de trabalho e dedicação. Saiu de cena no Dia dos Pais, deixando muitos amigos órfãos e um silêncio nos palcos da cidade.

Conhecia Paulinho há quase 30 anos, desde os meus primeiros dias em Londrina. Era uma pessoa extremamente gentil e bem-humorada, com uma impressionante capacidade de trabalho. Embora não chegássemos a ser íntimos, sempre tivemos uma relação cordial e próxima. Essa proximidade veio a se tornar parceria em 2004, quando ele me convidou para colaborar na adaptação teatral do romance "O Barão nas Árvores", de Italo Calvino.

Escrevi então o roteiro para o monólogo "Nas Alturas", dirigido por Nitis Jacon e protagonizado por Paulinho. Foi a minha segunda experiência com textos teatrais, cujas falhas foram plenamente compensadas pelo talento do ator. "Nas Alturas" estreou no dia 10 de dezembro de 2004, quando Londrina completava 70 anos. O livro de Calvino contava a história de um nobre italiano do século 18 que resolve subir nas árvores dos bosques de sua família — e não descer nunca mais. O monólogo "Nas Alturas" transferia a história do barão para os tempos da colonização de Londrina. A cena que mais ficou na minha memória é a do protagonista sofrendo as dores de um amor não correspondido e ouvindo a canção "Meine Rose", de Schumann, no alto da árvore-cenário.

Imagem ilustrativa da imagem Paulinho nas alturas
| Foto: Divulgação/Filo



Depois, em 2007, retomamos a parceria, no monólogo "Hangar 14", que contava a história do aviador Alberto Santos-Dumont. Desta vez, o livro inspirador foi "Asas da Loucura", biografia de Santos-Dumont escrita pelo inglês Paul Hoffman. Lembro-me que, em um dos primeiros ensaios da peça, recebemos a notícia do terrível acidente da TAM no Aeroporto de Congonhas, ocorrido há dez anos. O drama parecia refletir a tragédia que acabou por levar Santos-Dumont a um fim trágico. O espetáculo entrou em cartaz naquele mesmo ano, e mais uma vez o brilhantismo do ator compensou as deficiências do roteirista.

Um grande momento na vida artística de Paulo Braz foi a montagem inspirada em "As Cidades Invisíveis", obra-prima de Italo Calvino, com um elenco composto por atores cegos. Um dos destaques da peça foi o meu saudoso amigo Sebastião Narciso, também poeta e escritor.

Um mesmo tema parece percorrer os trabalhos de Paulinho: a busca pela elevação do espírito. Entre os protagonistas dos monólogos "Nas Alturas" e "Hangar 14", há em comum a ânsia por atingir patamares mais altos. O tema da visão — não no sentido físico, mas no sentido aristotélico-tomista de contemplação — também era uma constante em sua trajetória.

Antigamente, quando a presença de um médico era necessária na Santa Casa de Londrina, alguém acendia a lanterna no alto da torre, que existe até hoje. Peçam a alguém para subir nessa torre outra vez, e acender um holofote quando cair a noite. Será o sinal de que Paulinho agora vive nas alturas.

Até um dia, meu amigo.