Imagem ilustrativa da imagem O pai que perdeu a filha
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Meu nome é João e eu vendo pão. Desde criança, acordo de madrugada para levar alimento às pessoas. Sabe aquela história de "trabalhar de sol a sol"? É a minha história. Mas Deus foi generoso comigo e há 18 anos me presenteou com um tesouro: minha filha. Lembro-me da hora em que ela nasceu, às cinco da manhã, tão pequenina e delicada. Veio na mesma hora em eu que saía para entregar pão às pessoas. A partir daquele momento, prometi a mim mesmo que faria tudo para defendê-la do mal que existe no mundo.

No ano passado, nossa princesa chegou em casa com uma notícia maravilhosa: "Passei no vestibular!" Nós a abraçamos e choramos de alegria. A menina doce, carinhosa e inteligente agora estava na universidade. Tantos anos de trabalho estavam sendo recompensados.

No entanto, com alguns meses de curso, alguma coisa aconteceu. Ela pintou o cabelo de azul, descuidou da aparência, voltava tarde da noite e vivia participando de umas estranhas reuniões. Às vezes, chegava em casa com olhos vermelhos. A mãe perguntou se ela havia chorado, a resposta foi um ríspido não. Em toda infância e adolescência, ela nunca havia sido ríspida com a mãe. De repente, passou a tratá-la com uma frieza que beirava a crueldade.

De repente, ela começou a se ausentar dos almoços e jantares da família, ocasiões que para mim sempre foram sagradas, mesmo com tanto trabalho. Nas poucas vezes em que aparecia, fechava a cara. Só abria a boca para comer — seu apetite aumentou — e para dizer umas palavras estranhas. À irmãzinha, disse que lhe faltava "sororidade". À mãe, chamou de "submissa". Para mim, reservou os nomes de "opressor" e "burguês".

Um dia, quando lhe perguntei o que havíamos feito para merecer esse tratamento, ela simplesmente respondeu:

Estou me empoderando. Você nunca vai entender, porque não passa de um reacionário.

Numa missa de domingo, comecei a chorar quando o padre leu a parábola do filho pródigo. (Nem é preciso dizer que ela nunca mais foi à missa conosco.) Na segunda-feira, eu quis conservar com ela sobre a parábola, mas ela só falou em dinheiro. Queria corrigir o valor da mesada de acordo com a inflação e também um "aumento real" por causa da universidade.

Vieram me mostrar uma foto dela com um professor e os colegas de classe. Atrás, no quadro-negro, estava escrito: #FORATEMER. Será que ela não viu como a Dilma arruinou a nossa vida? Será que ela não entende que esse cara aí é nossa única esperança até 2018? Mas eu não disse nada. Ela me chamaria de "explorador" porque tenho dois empregados, além da Rosa, nossa velha diarista.

Apesar de tudo, eu tenho esperança. Fui à missa dos enfermos; pedi a Jesus e a Nossa Senhora que tragam minha menina de volta. Mantenho o velho hábito de olhar para ela dormindo, antes de sair para o trabalho, às cinco da manhã. E o que eu vejo, ainda hoje, é a minha princesinha. Ela voltará, eu sei, e trocaremos um sorriso e um abraço de perdão.

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