Imagem ilustrativa da imagem O irmão gêmeo do Beto
| Foto: Shutterstock


Estou ficando meio cego. Na noite em que me tornei londrinense, simplesmente não conseguia enxergar o rosto dos amigos sentados a poucos metros de distância. De repente vi (ou julguei ver), nas galerias da Câmara, o meu querido amigo Lúcio Horta. Quando me deram a palavra, não tive dúvidas e disse:
— Gostaria de agradecer ao meu amigo Lúcio Horta, que veio de Foz do Iguaçu especialmente para esta solenidade!
A reação do "Lúcio Horta" não foi exatamente a que eu esperava. Isso porque, na verdade, tratava-se do meu querido primo e ex-companheiro de república Roberto Machado, que viera de Cascavel especialmente para a solenidade.
O prefeito, que estava ao meu lado na mesa, estudou com o Beto nos tempos de universidade. Ele frequentava nossa república na Rua Humaitá. Em voz baixa (a cerimônia já havia começado), Marcelo Belinati me disse:


— Paulo, aquele ali não é o Beto?
— Não é não, prefeito, é outro amigo.
— Nossa, mas é muito parecido. Como se fosse irmão gêmeo do Beto!
Ao final da solenidade, o prefeito resolveu desfazer a dúvida pessoalmente. Foi até as galerias e voltou de braços dados com o velho amigo. Sim, o irmão gêmeo do Beto era o Beto.
Foi nesse momento que todos descobriram minha verdadeira identidade: Mister Magoo.
Detalhe: Beto é oftalmologista e vai me receitar óculos para a miopia.

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Francisco Ontivero e Nelson Dequêch, cidadãos beneméritos de Londrina e presidentes do Hospital do Câncer, posavam juntos para uma fotografia, ao lado do cidadão Mister Magoo. O fotógrafo Devanir Parra estava visivelmente emocionado:
— Hoje faz um ano que minha mãe renasceu.
Então Devanir contou a história de sua mãe, D. Lourdes. No ano passado, ela descobriu estar doente. Passou por uma cirurgia e começou a fazer quimioterapia no Hospital do Câncer.
Certo dia, D. Lourdes estava triste e silenciosa em casa, deprimida com os conhecidos efeitos da quimioterapia. Naquele momento, Devanir chegou da rua com um presente: uma peruca.
Quando D. Lourdes, depois de alguma relutância, pôs a peruca e olhou-se no espelho, abriu um sorriso imenso, pela primeira vez em muito tempo. Naquele momento, Devanir prometeu que não iria cortar os cabelos por um ano.
Exatamente um ano depois, o fotógrafo encontrou Seu Francisco e Seu Nelson, heróis de nossa cidade, que ajudaram e ajudam a salvar tantas vidas.
— E a D. Lourdes, Devanir? — pergunta o cronista Mr. Magoo.
— Minha mãe? Vai muito bem. Está melhor que nós todos!
Mesmo com minha visão míope, notei que Devanir segurava as lágrimas.

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