Imagem ilustrativa da imagem O cego da Estação Paraíso
| Foto: Parlatório Livre/Divulgação



Domingo de garoa. Vou à livraria que frequento há 30 anos em São Paulo. Depois de almoçar no Sujinho com meus queridos padrinhos de casamento Zé e Carla, levo nas mãos uma antologia poética de António Machado que procuro há muito tempo. No metrô, ao meu lado, há um homem cego.

Se quisermos conhecer a alma de uma cidade, devemos voltar ao seu mito fundador. São Paulo, a maior cidade brasileira, nasceu como uma escola, um pequeno colégio jesuíta fundado por padres jesuítas. No salão nobre da Casa de Leis paulistana, realizou-se há poucos dias um evento que faz jus às melhores tradições da metrópole: o Parlatório Livre. Tive a honra de participar de um debate sobre liberdade de imprensa ao lado de alguns dos mais brilhantes intelectuais que repensam o Brasil.

O Parlatório Livre, na minha opinião, funcionou neste sábado como uma escola de realidade. Seis professores deram aulas magnas sobre os rumos do Brasil, dentro de um clima de cordialidade que não exclui visões respeitosamente divergentes sobre a vida nacional.

Lá estava Henrique Viana, jovem empreendedor gaúcho, um dos criadores do projeto Brasil Paralelo, verdadeira universidade on-line acessível a qualquer cidadão comum, já frequentada por milhões de pessoas.

Lá estava Flávio Morgenstern, brilhante ensaísta e autor de "Por trás da máscara — Do passe ao livre aos black blocs", livro que desvenda a sordidez da militância do caos no Brasil.

Lá estava Filipe G. Martins, que aos 28 anos é um dos melhores analistas da conjuntura internacional em que o nosso país está mergulhado.

Lá estava Janaína Paschoal, professora da Faculdade de Direito da USP e a meu ver a grande responsável pelo impeachment da sra. Dilma Rousseff. Dra. Janaína enfrentou e continua enfrentando corajosamente a tropa de choque da escória nacional.

Lá estava Madeleine Lacsko, jornalista de grande destaque na mídia nacional. Em minha opinião, ela possui uma rara sintonia com as opiniões do povo, esse grande excluído das discussões políticas no Brasil. (Também estava lá o seu filho Lourenço, de 7 anos, para o qual todas as nossas falas foram dirigidas.)

Lá estava Carlos Andreazza, nome de grande destaque no mercado editorial brasileiro, responsável pelo lançamento do fenômeno "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", livro de artigos do professor Olavo de Carvalho, nosso maior filósofo vivo.

Para este cronista caipira, só o fato de estar ao lado deles, na mesma mesa, já foi uma honra. Agora, poder trocar ideias e impressões sobre a realidade nacional foi um momento inesquecível. Um momento de abrir os olhos.

Desço na Estação Paraíso. Ao meu lado, está o homem cego. Ele é recebido com um sorriso pela funcionária do metrô:

— Olá, amigo! Tudo bem? Vou te ajudar.

O cego e a funcionária caminham pela Estação Paraíso. Abro o livro de António Machado e leio os versos que definem isso tudo que estou vivendo:

"Não desdenheis a palavra:
o mundo é ruidoso e mudo.
Ó poetas, só Deus fala".