Por que o mesmo Jesus recebido com festa em Jerusalém no Domingo de Ramos foi condenado à morte na Sexta-Feira da Paixão? No livro "Jesus de Nazaré", o papa emérito Bento XVI oferece alguma explicação para a mudança. Ele observa que o nome Barrabás (Bar-Abbas) significa literalmente "Filho do Pai", uma designação messiânica; na ocasião, Barrabás tinha o status de um líder revolucionário. Quando Pilatos propôs às pessoas que escolhessem entre libertar Jesus ou Barrabás, estava colocando diante da humanidade a opção entre o poder espiritual e o poder político; entre a lei de Deus e a ideologia do mundo. Durante a vida inteira, somos postos diante do mesmo dilema: escolher entre Jesus e Barrabás. Infelizmente, na maioria das vezes, temos escolhido o poder deste mundo, que ao fim se revela ilusório e catastrófico. Quando assistimos a cenas como as do ataque com armas químicas na Síria, nossa reação imediata é invocar a misericórdia de Deus. Mas não podemos esquecer que Deus possui a perfeição em todas as suas qualidades: sua misericórdia é infinita, mas sua justiça também o é. A morte de crianças e civis inocentes, portanto, não ficará impune. No momento em que os olhos do mundo se encontram postos na Síria, talvez seja preciso lembrar um drama que aconteceu a caminho de Damasco. Saulo viajava com o objetivo de perseguir os primeiros cristãos. O próprio Jesus lhe apareceu e disse: "Saulo, por que me persegues?" O resto da história nós conhecemos. Saulo se tornou o apóstolo Paulo e disseminou o cristianismo pelo mundo inteiro. A história de São Paulo na estrada para Damasco tem um significado essencial para o tempo que vivemos: nós precisamos passar pelo mesmo caminho. É um caminho de dor, de dificuldades, de perigos e de tribulações. Em uma palavra — é um caminho de cruz. Na minha primeira visita ao filósofo e amigo Olavo de Carvalho, em 2013, fiz questão de ler-lhe um poema de Bruno Tolentino, cujos versos talvez sejam ainda mais contundentes e proféticos agora. Encerro a coluna de hoje com as mesmas palavras sobre o caminho de Jerusalém — aquele que separa o Domingo de Ramos e o Domingo de Páscoa: O crucificado chamado Jesus é o encontro marcado entre a solidão e o significado do teu coração: de um lado teu medo, teu ódio, teu não; de outro o segredo com seu cofre aberto, onde o teu degredo, onde o teu deserto, vão morrer, mas vão morrer muito perto da ressurreição. Fale com o colunista: [email protected]