Não tenha pressa, Pedro
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quarta-feira, 20 de setembro de 2017
por Paulo Briguet
De manhã, Pedro ficou pensativo por um instante e declarou com voz muito séria:
Daqui a 11 anos eu já vou ser adulto.
Achei muito divertida essa matemática do Pedro, mas ponderei:
Filho, não precisa ter tanta pressa. Ser criança é bom, e ser adulto traz uma série de chateações e responsabilidades.
Mas o Pedro está empolgado com a perspectiva de ser adulto. Ficou muito feliz quando acordou com uma dorzinha na perna esquerda e a mãe comentou:
Isso deve ser dor de crescimento, Pedro.
Rosângela tem razão. Crescer dói. Basta o Pedro dormir uma noite na casa da avó e ele já parece maior do que no dia anterior.
Não tenha tanta pressa em crescer, Pedro. Se eu pudesse, voltaria a ter sete anos. Em 1977, as crianças da minha escola fizeram uma visita à fábrica da Coca-Cola em São Paulo. Fiquei impressionado com aqueles imensos tanques onde se armazenava o refrigerante. Depois fomos levados a uma sala onde exibiram um filme institucional sobre a empresa (na época, eu não sabia o que era "institucional") e nos serviram copos grandes de refrigerante acompanhados de pastel.
Naquela mesma época, estava circulando o boato de que um funcionário havia morrido afogado em um tanque da Coca-Cola. Ninguém tocou no assunto durante a visita. Nessa mesma época, eu encontrei uma tampinha premiada. Meu prêmio foi... um copo! Fiquei muito feliz.
Nosso livro de escola trazia histórias e poemas de uma mulher chamada Cecília Meireles. Eu gostava das coisas que ela escrevia. Ficava pensando: será que ela se parece com a minha mãe, com a professora Maria Amélia ou com Nossa Senhora? Será que um dia a Cecília Meireles vem nos visitar aqui na escola? Tantas perguntas.
Eu tinha sete anos quando meu pai me levou ao parque. À sombra de uma imensa árvore, havia a barraquinha de um vendedor de doces. O homem usava óculos e era sorridente. Notei que sua pele tinha diversas marcas roxas, como se alguém o tivesse riscado com caneta. Quando me viu, o rosto do homem iluminou-se:
Pode levar quantos doces quiser, menino. Seu pai salvou a minha vida.
Quarenta anos depois, eu e Rosângela deixamos o Pedro na escola e passamos de carro pela Igreja Coração de Maria, onde nos casamos. Na calçada em frente à igreja, existe uma árvore e esta árvore floresceu. Floresceu de um modo espetacular. Então eu me lembrei daquele vendedor de doces, e do dia em que meu pai entrou pela porta daquela igreja para assistir ao nosso casamento, e do domingo em que meu pai morreu da mesma doença que atingira o vendedor de doces. Na semana passada, alguém me chamou de "fascista" naquele mesmo lugar. De certa maneira, a árvore florida estava dando sua resposta a quem fez o xingamento.
Não tenha pressa, Pedro. As árvores e as pessoas levam muitos anos para crescer. Um dia você vai ser um homem tão bom quanto o seu avô.
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