Vai chegando o Dia dos Pais, e nesses dias a saudade aperta. Mas tenho um motivo de consolação: a presença do meu sogro.

Sogro em inglês é "father in law". Literalmente, "pai por lei". Ambas as expressões — sogro e father in law — são inadequadas para definir Lourenço Vale Luca, pai da Rosângela e avô do Pedro, que aniversaria hoje.

Sogro é uma palavra que, em nossa cultura, adquiriu características um tanto pejorativas. Acho que existem inclusive piadas de sogro. "Pai por lei" transmite a ideia de um vínculo forçado, obrigatório. Nenhuma das duas expressões abarca o sentimento e a gratidão que eu tenho pelo Seu Lourenço.

Dias atrás publiquei uma crônica sobre o valor da paternidade, na qual dizia que a figura do pai é imprescindível para a sobrevivência do mundo. Por isso, considero um crime essa história de transformar o Dia dos Pais em "dia de quem cuida de mim" ou outra idiotice politicamente correta. Ocultar o respeito aos nossos pais é o primeiro passo para abandonar a verdade, a beleza e o bem. Quem não honra a figura paterna está rejeitando a estrutura da realidade — e este é o primeiro passo para a morte da alma. Sem pais e mães, seríamos todos sombras de nós mesmos.

Imagem ilustrativa da imagem Meu pai se chama Lourenço
| Foto: Shutterstock



Quando perdi meu pai, há nove anos, senti-me imensamente triste, mas não abandonado. Meu pai se chamava Paulo Lourenço, era meu parceiro de vida e de literatura (chegamos a publicar um livro juntos, "Diário de Moby Dick", e ainda temos um livro inédito, "Mea Culpa e outras histórias").

Consumido pela dor, olhei para o lado, e quem vi? O Seu Lourenço. Sim, meu pai e meu sogro tinham o mesmo nome. Esse fato não pode ser simples coincidência, pelo simples fato de que coincidências não existem.

Há outras. Paulo Lourenço era bancário. Lourenço Vale era bancário. Paulo Lourenço nasceu na pequena Santa Adélia. Lourenço Vale nasceu na pequena Quatiguá. Paulo Lourenço amava sua família. Lourenço Vale ama sua família. Paulo Lourenço era generoso. Lourenço Vale é generoso. Paulo Lourenço teve origem humilde e batalhou para estudar. Lourenço Vale teve origem humilde e batalhou para estudar. Paulo Lourenço tinha como prioridade a mulher e os filhos. Lourenço Vale tem como prioridade a mulher e as filhas. São inúmeras as semelhanças entre esses dois homens que, mesmo assim, são únicos.

Deus fala através das coincidências. E o recado, no meu caso, era por demais óbvio:

— Paulo, você tem um novo pai.

É por isso que eu quero o Seu Lourenço na primeira fila, no dia 25 de agosto, quando receber o diploma que mais me orgulhará em toda a vida: o título de Cidadão Honorário de Londrina. Quero que meu sogro esteja na cadeira que meu pai ocuparia. Quero dar em Lourenço Vale o mesmo abraço que daria em Paulo Lourenço: um abraço de filho.

Parabéns, Seu Lourenço. E obrigado por continuar demonstrando que a família é o bem mais precioso criado por Deus. Tanto é que até Ele quis ter uma!