Saindo da missa em Atibaia, passei ao lado de uns tapumes repletos de pichações e "grafites". Atibaia é uma cidade linda e histórica, com ruas de paralelepípedos, casas antigas, um coreto no jardim central. A igreja matriz é feita de barro e bambu — tem 298 anos! Há um clima de cidade de interior, um céu resplandecente e o delicioso ar das montanhas. Mas o feio também chegou aqui: nos tapumes, havia as tais pichações com os dizeres "Volta Mariguella (sic)", "Mais Brecht, menos Oderbrecht (sic)" "EZLN", a foice-e-martelo e, claro, o indefectível "Foratemer".

Nada falarei sobre o presidente em que eles votaram — vocês sete já sabem que eu gostaria de vê-lo na cadeia —, mas me permito uma observação sobre a grafia errada do nome do líder comunista e da empreiteira favorita da esquerda brasileira. Eles não sabem nem escrever o nome do ídolo! Ademais, quem escreve "Oderbrecht" em vez de "Odebrecht" provavelmente nunca leu Brecht.

Imagem ilustrativa da imagem Marighella presidente
| Foto: Paulo Briguet



Tendo por base a leitura do "Manual do Guerrilheiro Urbano" (na verdade, um manual de assassinato), escrito por Carlos Marighella, podemos fazer uma ideia de como seria o Brasil se ele um dia assumisse o poder. Na melhor das hipóteses, eu e vocês sete estaríamos na cadeia como perigosos elementos contrarrevolucionários. Na mais provável, nem eu nem vocês estaríamos neste mundo. Marighella, a exemplo de Mao e Stálin — os maiores assassinos de todos os tempos —, escrevia poemas. Uma delicadeza.

Mas muitos Marighellas chegaram ao poder. Na China, eles continuam por lá. A Romênia — país que surpreendentemente guarda muitas semelhanças com o Brasil — viveu o pesadelo de ter um Marighella na presidência durante longos anos. Seu nome era Nicolae Ceausescu.

Meu amigo Elpídio Fonseca está traduzindo o livro "Também eu vivi no comunismo" (Si eu am trait in comunism). A obra reúne depoimentos de 96 pessoas, entre 21 e 90 anos, que contam como é viver em um país administrado por um Marighella da vida. O depoimento do escritor e filósofo Gabriel Liiceanu sobre um colega de classe cujo pai era prisioneiro do regime é uma passagem lancinante. Reproduzo-a aqui:

"Estou na terceira carteira da fila do meio. Na carteira atrás de mim está Dan G. É o melhor em matemática. Mora, como eu, em Cotroceni, na rua Dr. Lister. (...) Seria normal que fôssemos juntos para casa. Mas não acontece assim. Dan não tem nem um amigo. É calado e, no recreio, de regra permanece na classe. Não sei de nenhuma vez que tenha brincado conosco. De fato, é a criança com o olhar mais triste que já vi na vida. De onde lhe vem tal olhar? (...) Vinha de um lugar a que a minha mente de criança não tinha como chegar. Depois de muitos, muitos anos, disseram-me que Dan estaria algures na Cordilheira dos Andes. Não sei por que me pareceu o natural mesmo. Imaginei-o ainda só, com o mesmo olhar do liceu, olhando o voo dos condores".