Imagem ilustrativa da imagem Isso não está direito!



Eles não estavam preparados para a direita que surgiu. Por isso estão desnorteados, perplexos, sem ação, deprimidos.

Eles esperavam uma direita que fosse tudo, menos inteligente, espirituosa e divertida. Nunca sonharam que pudesse existir algum dia uma direita "zuêra", que conta boas piadas e maneja as armas da ironia. Jamais contariam com uma direita que unisse o bom humor à seriedade de propósitos.

Eles não imaginavam uma direita que iria romper com os monopólios da esquerda na cultura, nas artes, nos direitos humanos, na universidade.

Eles esperavam uma direita cheia de ódio; veio uma direita com amor ao próximo. Eles esperavam uma direita hipócrita; veio uma direita sincera. Eles esperavam uma direita pesada; veio uma direita ágil. Eles esperavam uma direita truculenta; veio uma direita civilizada. Agora eles não sabem direito o que pensar.

Para eles, a direita teria que ser igual às caricaturas dos velhos boletins comunistas e sindicais do passado, onde o direitista era sempre um gordo enorme, de cartola e fraque, fumando um baita charuto, carregando um saco de dinheiro e pisando nas criancinhas e nos trabalhadores. (Eu sei disso porque fui editor de jornal sindical.)

Na verdade, quem é perigoso para as criancinhas (principalmente as que estão no ventre das mães) são eles. E não é o gordo de cartola que se aproveita dos trabalhadores: quem pisoteia e instrumentaliza trabalhadores são os chefões partidários.

Eles esperavam uma direita com rabo preso. Uma direita que defendesse o Cunha, o Moreira Franco, o Serra. Entraram em parafuso quando viram uma direita que execra esses personagens.

Eles esperavam uma direita que boicotasse e censurasse os debates políticos. Agora, eles é que boicotam e censuram os mesmos debates. O nome disso é medo.

Eles esperavam uma direita que detestasse o povo — e descobriram que, na verdade, quem detesta o povo são eles, principalmente quando o povo vota na direita.

Eles nunca imaginaram que existisse uma direita instruída, estudiosa e culta. Uma direita que lê Aristóteles, Platão, Agostinho, Tomás de Aquino, Eliot e Camões. Eles nunca imaginaram uma direita que conhece a dialética, o marxismo e os truques da esquerda. Eles nunca imaginaram uma direita que soubesse como pensa a esquerda (até porque muitos, como este que vos escreve, já foram esquerdistas.)

Eles não esperavam uma direita alegre, feliz, generosa e acolhedora.

Eles esperavam uma direita que não respondesse a agressões, que continuasse caindo nas mesmas armadilhas, que morresse de medo dos militantes midiáticos e dos "formadores de opinião". Veio uma direita que responde, e responde com firmeza e calma, sem levantar o tom de voz.

Eles não esperavam uma direita que se preocupa com as pessoas, não apenas em termos coletivos, mas individualmente. Uma direita que olha nos olhos e fala com o coração nas mãos.

O que eles mais queriam era ter de volta a direita antigona, a direita bronca, a direita das caricaturas. Mas essa direita só existe nos sonhos da esquerda.

A direita-espantalho não existe mais — e agora os militantes não sabem direito o que pensar, nem o que fazer. O jeito é redigir uma nota de repúdio e chorar na rede social.