Farei uma revelação
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 19 de outubro de 2016
por Paulo Briguet
Meu amigo Luciano Pascoal vasculhava algumas gavetas esquecidas do Departamento de Comunicação da UEL quando encontrou algumas fotos antigas. Eram filmes em preto e branco, do tempo em que as fotografias precisavam passar por um laboratório químico antes de vir à luz. Nem todo mundo sabe, mas a palavra apocalipse quer dizer revelação. Eis o que faziam os estudantes de fotojornalismo de antigamente: pequenos apocalipses no laboratório do lendário Negativo.
Na semana passada, o Luciano desencavou uma foto de 25 anos atrás a imagem que ilustra a coluna de hoje. Lá estão seis estudantes de jornalismo, nas proximidades da escadaria do Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA). São eles: Patrícia Zanin, Cassiana Pizaia, este cronista de sete leitores, Francelino França, Luciana Martinez Peña e Fábio Alves Silveira.
Estamos felizes na foto. Acabamos de receber um prêmio na verdade, um troféu, mas quem liga para essas coisas de dinheiro? em um concurso nacional de estudantes de jornalismo. Um programa radiofônico que escrevemos nas dependências da República da Humaitá e gravamos nos então paleolíticos estúdios da universidade mereceu a distinção em um certo Prêmio Cone Sul de Comunicação, se bem me lembro. Foi em 1991; acho que naquele tempo a Sandra de Sá assinava apenas Sandra Sá.
Os componentes do grupo eram os cinco primeiros estudantes. O quase irreconhecível Fábio Silveira de quem fui o primeiro editor na imprensa londrinense, no jornal do DCE está na função de mestre de cerimônias, o que explica a gravata borboleta. Depois do apocalipse da foto, Fábio revelou que estava de bermudas, ao estilo de Cid Moreira no Jornal Nacional (entendedores entenderão; se você não entender, pergunte a alguém com mais de 40 anos).
A professora da disciplina de radiojornalismo era a querida Francisca S. Mota Pinheiro, por todos conhecida como Chica. Foi ela a responsável por improvisar, com carinho e delicadeza, a cerimônia de premiação nos corredores do Ceca. Providenciou inclusive as flores. Não poderia ser diferente, ela é uma flor de pessoa.
Seguimos caminhos diferentes na vida, todos de alguma forma relacionados ao jornalismo. Patrícia é apresentadora e editora na Rádio UEL; Cassiana emprestou seu talento à televisão durante muitos anos, hoje dedica-se à literatura; Luciana é repórter e editora da Rádio CBN, em Maringá; Fábio é jornalista, sociólogo e professor.
E o França?
Francelino França nos deixou precocemente há alguns anos. Foi um brilhante jornalista, teatrólogo, ator e, por fim, cineasta. Trabalhou aqui na Folha vários anos. Era uma das pessoas mais espirituosas e carismáticas que já conheci. Sabia encarar com bom humor até mesmo seus problemas de saúde. Tornou-se amigo e conselheiro de muita gente, incluindo este cronista, e estou para ver alguém que conheça melhor a obra de Nelson Rodrigues.
Se você observar bem a foto, verá que França é o único que está olhando para nós, através do tempo.
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