Imagem ilustrativa da imagem Eu confesso
| Foto: Josias Teófilo


Há 1.630 anos, numa noite escura nas proximidades de Milão, um jovem professor chamado Aurélio Agostinho sentou-se no jardim de sua casa e começou a chorar amargamente. Estava desiludido com o tipo de existência que havia escolhido para si mesmo, inteiramente voltada para o prazer e o poder. Mergulhado nas próprias aflições, Agostinho ouviu uma voz de criança que dizia em latim: "Tolle et lege" (Toma e lê). Abriu aleatoriamente a Bíblia e leu a seguinte passagem da Carta aos Romanos: "A noite vai adiantada, e o dia vem chegando. Despojemo-nos das obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. Comportemo-nos honestamente, como em pleno dia: nada de orgias, nada de bebedeira; nada de desonestidades nem dissoluções; nada de contendas, nada de ciúmes".

Foi assim que o professor Aurélio Agostinho mudou de vida e transformou-se em Santo Agostinho, um dos maiores Doutores da Igreja. Sua obra mais célebre intitula-se "Confissões", em que o autor narra toda sua trajetória de vida à luz de uma só testemunha: Deus. A cada um de nós é oferecida a oportunidade de seguir os passos de Agostinho e contemplar a verdade sobre nós mesmos diante de alguém a quem não podemos mentir. De certo modo, todos temos "Confissões" a fazer.

Agostinho estava com 33 anos, a idade de Cristo, quando se converteu. Não sei se o meu amigo Olavo de Carvalho, o maior filósofo brasileiro, passou por algum episódio semelhante em sua vida, mas sei que ele me ensinou a falar e escrever como Agostinho: com o coração nas mãos.

Estou caminhando para o meu primeiro ano de convívio com os leitores aqui na Folha de Londrina. Para definir este ano que se encaminha para o fim, eu poderia utilizar imagens de diversas pessoas: Donald Trump, Sérgio Moro, Ferreira Gullar, Sérgio Cabral, Luladilma, Marcelo Odebrecht, o menino chorando no estádio da Chapecoense. Mas prefiro usar essa foto do meu amigo Olavo na fila para confissão na Igreja de São José, em Richmond, Virgínia.

O responsável pelo clique é Josias Teófilo, diretor do longa-metragem "O Jardim das Aflições", sobre a vida e a obra do filósofo e escritor brasileiro. Há exatamente um ano, eu estava na casa de Olavo, participando do II Encontro de Escritores Brasileiros na Virgínia, ao lado dos queridos Rodrigo Gurgel, Yuri Vieira, Érico Nogueira e Carlos Nadalim. O tempo voou!

Se homens sábios como Olavo e santos como Padre Pio não deixam de se confessar periodicamente, se o papa João Paulo II gostava de se confessar com um padre beberrão que vivia nas ruas de Roma, quem sou eu para não fazer o mesmo? Tenho duas confissões em minha vida: uma delas é quinzenal, com o padre; a outra é diária, com meus sete leitores.

Sim, eu confesso que pequei — por atos, palavras, pensamentos e omissões. Peço perdão a Deus e a você, leitor. Tolle et lege. A noite vai adiantada, e o dia vem chegando.

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