Imagem ilustrativa da imagem As árvores de Deus
| Foto: Cláudia Morais Piovezan



Florescem os ipês em toda a cidade. Florescem os brancos, florescem os amarelos. Florescem do dia para a noite, como se tivessem combinado tudo uns com os outros, utilizando a linguagem das plantas, que jamais compreenderemos. Florescem, tendo por pano de fundo o céu mais azul de todos os azuis. Florescem os ipês, e quando eles florescem ninguém pode deixar de sorrir e de alimentar uma esperança.

Florescem os ipês porque foram criados por Deus e ouviram a ordem divina:

— No final de agosto de 2017, vocês florescerão.

Eles ouviram e obedeceram.

Florescem os ipês porque Deus sabe que nós precisamos do amarelo, do branco, do verde, do azul e de todas as cores que existem. Precisamos até mesmo das cores que não são identificadas pelo globo ocular, mas existem porque Deus assim quis. Um dia conheceremos todas as flores, todas as cores. "O que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu."

Na minha infância, correu por todo o país um boato de que o ipê roxo curava o câncer. Quando vejo um ipê, lembro-me sempre desta promessa de vida que a ciência não comprovou, mas que o coração de um menino guardaria para sempre. Talvez por isso eu me alegrasse tanto quando os ipês da pracinha da Rua Humaitá floresciam e depois forravam o chão como um imenso tapete amarelo. Eu abria a janela do meu quarto da república, via aquelas flores amarelas, que poderiam ser roxas — e meu coração de ateu pensava em Deus, mesmo que só por uns segundos.

Já naquela época eu já pressentia que as árvores e as flores, assim como nós, foram feitas por Deus. Cada árvore é um braço estendido que clama por voltar ao Céu, e as flores são tentativas de atingir o Céu por meio da beleza. Os ipês florescem — brancos, amarelos, roxos — porque desejam ser eternos. Um ipê florido é sem-morte.

As árvores de Deus existem desde a Criação. No centro do Jardim do Éden, ficava a árvore do conhecimento do bem e do mal. Certamente era uma árvore linda, frondosa, cheia de flores. Seu fruto deveria ser uma obra-prima da beleza. A Adão e Eva não foi proibido admirar a árvore do conhecimento. Ah, se nossos primeiros pais tivessem apenas contemplado aquela árvore, como nós completamos os ipês!

Quando Moisés apascentava o rebanho de seu sogro, aos pés do Monte Horeb, o anjo de Deus apareceu-lhe na forma de uma sarça ardente, que não se consumia. A mesma sarça ardente que seria erguida no alto de outro monte, o Calvário, com o Filho de Deus pregado nela: a árvore que sangra.

No Getsêmani, as árvores de Deus eram as oliveiras, que viram Jesus suar sangue. Quando Herodes mandou matar todas as crianças, uma aflita mãe escondeu seu filho debaixo das folhas de uma figueira. Trinta anos mais tarde, Jesus falaria a Natanael sobre o que aconteceu debaixo daquela árvore. "Mestre, tu és o filho de Deus, tu és o rei de Israel", disse Natanael, ao ouvir as palavras de Jesus.

Olhai os ipês da cidade: eles não fiam nem bordam, mas anunciam o reino de Deus. E nós, como o pequeno Natanael, estamos debaixo de suas folhas, de suas sombras, de suas flores. Nós também somos braços e cruzes que apontam para o Céu.