Jacinta foi para o Céu há exatos 97 anos. Era uma sexta-feira, por volta das dez e meia da noite. Ao seu lado, no hospital de Lisboa, estava a enfermeira que Jacinta chamava de "minha Aurora". Quando Nossa Senhora apareceu aos três pastorzinhos na Cova da Iria, em 1917, avisou-lhes: primeiro levaria Francisco, e depois sua irmãzinha Jacinta; Lúcia ainda ficaria muito tempo na Terra para dar testemunho de tudo que a Mãe de Deus disse e pediu em Fátima.

Dias atrás resolvi ler o livro "Jacinta de Fátima", presenteado pelo Dr. José Ruivo, meu amigo e confrade da Academia de Letras de Londrina. Nas últimas páginas, descobri que Jacinta partiu no dia 20 de fevereiro de 1920. Portanto, hoje é o dia dela. E 2017 é o centenário de Fátima, que nós católicos consideramos provavelmente o maior milagre já testemunhado desde a Ressurreição de Jesus.

Imagem ilustrativa da imagem A verdade tem rosto de criança
| Foto: Arquivo do Santuário de Fátima



Jacinta estava com apenas sete anos quando Maria apareceu sobre o azinheiro em Fátima. Sete anos! É a idade que o meu filho vai completar. É a idade do meu bisavô Antônio Costa, também um portuguesinho, quando foi deixado sozinho no Brasil, em 1896. Mesmo tão jovem, Jacinta revelou uma força e uma fé que nenhum adulto conseguiria igualar. Por isso, o papa João Paulo II, no dia em que ela e o irmão foram beatificados, citou a passagem do Evangelho de São Mateus: "Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos".

Desde a infância sou fascinado pelo ano de 1917. Por um longo tempo pensei que minha obsessão era causada pela revolução comunista ocorrida naquele ano; mas o verdadeiro motivo era Fátima. Os três cavaleiros revolucionários – Lênin, Trotsky e Stálin – na verdade eram a personificação de tudo aquilo que a Mãe de Deus profetizou, descreveu e condenou em Fátima. Em lugar do desespero da morte, os três pastorzinhos de Portugal nos mostraram a esperança da vida eterna.

Enquanto Lênin e seus partidários se preparavam para tomar o poder na Rússia; enquanto os exércitos europeus se trucidavam nas terras de ninguém; enquanto o poeta italiano Giuseppe Ungaretti rabiscava numa trincheira os seus versos imortais ("Ilumino-me de imenso"); enquanto o mundo caminhava para uma sequência de ditaduras e genocídios jamais vistos — a verdade e o coração puro de Deus se manifestavam a três crianças pobres do país em que a Europa se torna mar.

Hoje, como faço diariamente, repetirei a oração que Nossa Senhora ensinou aos pastorzinhos: "Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu, e ajudai principalmente aquelas que mais precisarem".

Todos nós precisamos de ajuda para compreender que a verdade tem o rosto de uma criança. E você, minha oitava leitora, a quem o nome Jacinta não é estranho, poderá descobrir isso hoje. Dom Albano vai ajudá-la.

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