A primeira coisa que chama a atenção nela é o sorriso. Poucas vezes vi um sorriso ao mesmo tempo tão sincero e tão triste. Ela sorri como alguém que tem a alma ferida. Todas as noites, antes de dormir, lembra-se dos cinco filhos que não deixou nascer. Ora em particular para cada um deles; tenta imaginar-lhes o rosto, as mãos, o olhar — e, é claro, o sorriso. Depois, reza pela filha, uma linda moça que hoje está com vinte anos.

Por cinco vezes, ela adormeceu e, por decisão própria, quando algo acordou já não carregava uma vida em seu ventre. "Quando você faz isso, é como se alguma coisa cauterizasse a sua consciência. Você se autocorrompe, mente a si mesma, feito alguém que volta a usar uma droga pesada", diz. É impossível, no entanto, cauterizar a ferida que permanece na alma. Continua doendo. Dói todos os dias. "Você olha um bebê na rua e lembra — não tem como. As marcas ficam para sempre. A mulher que faz um aborto nunca mais volta a ser a mesma pessoa."

As cinco gravidezes ocorreram em um período de seis anos. "Peço perdão a essas crianças, mas até hoje não consegui me perdoar. É uma culpa que fica impregnada na sua alma." Ela estranha quando militantes falam em "liberdade" da mulher. "Que liberdade é essa? Você considera livre alguém que carrega para sempre uma prisão dentro de si mesma?"

Imagem ilustrativa da imagem A mulher arrependida
| Foto: Shutterstock



Mas as feridas não são apenas espirituais e psicológicas. Ela teve câncer de mama e, mais recentemente, uma recidiva de câncer no útero, além de uma série de problemas ginecológicos. "Tem uma coisa dentro de mim, uma dor, uma tristeza! Nas duas vezes em que tive o diagnóstico de câncer, a primeira palavra que veio à minha mente não poderia ser outra: aborto." Quando outras coisas começaram a não dar certo em sua vida, ela sempre voltava ao mesmo ponto: "aquilo".

Ela se considera mãe de uma jovem e de cinco nascituros que não puderam vir ao mundo. Por isso, acabou se tornando uma defensora incansável deste grupo, o mais excluído entre todos os excluídos: aqueles que não têm voz, não têm voto, não têm verba, só têm vida. Aqueles que têm o mundo a perder se o mundo não lhes reconhecer a existência.

Ela não se importa que a sua história seja publicada no jornal. "Quero falar sobre o que aconteceu comigo e evitar que outras mulheres façam a mesma coisa. Ninguém merece viver com este peso na alma. Quero ajudar essas mulheres para que não se tornem reféns de suas escolhas."

O perdão é a lei estrutural do universo; tenho certeza ela já recebeu o perdão de Deus e dos cinco nascituros. Agora, é preciso estender essa alegria a outras vidas humanas. Um dia, os olhos da mulher que falou comigo não irão contradizer os seus lábios.