Imagem ilustrativa da imagem A morte de um pai de família
| Foto: Paulo Briguet



O latrocínio é o pior dos crimes. Além de ferir simultaneamente dois mandamentos universais, o assassino-ladrão comete uma ofensa que está no cerne de todos os outros delitos. Quando essa transgressão tira a vida de um pai de família, de um homem justo, de um homem que só fazia o bem, estamos diante do mal absoluto.
Na noite deste domingo, quando o mundo rememorava os 15 anos do atentado que roubou 3 mil vidas de uma só vez, Joel de Paula voltava para casa com a mulher e o filho. Ao abrir a porta, surpreendeu lá dentro três assaltantes. Quando um deles ameaçou o filho cadeirante, Joel não se conteve e reagiu com sua arma. Atingiu dois assaltantes, matou um deles, mas também foi baleado e morreu no chão da cozinha. O terceiro bandido fugiu.
Joel tinha apenas 37 anos. Era um homem admirado e estimado por todos que o conheciam. Manobrista do Restaurante Serafini, na Avenida Higienópolis, distribuía simpatia e inspirava confiança entre todos os clientes e funcionários da casa, onde trabalhava há 17 anos. Os frequentadores do restaurante jamais hesitavam em lhe deixar as chaves do carro para que ele pudesse trabalhar. Joel possuía uma incrível memória fotográfica; conhecia os modelos e as placas de cada veículo dos clientes.
Incansável, também tinha espírito empreendedor. Conseguiu reunir um capital para adquirir o seu próprio estacionamento, que funcionava na Rua Hugo Cabral, justamente no local da antiga casa do médico, latinista e político Justiniano Clímaco da Silva (1908-2000), o lendário e respeitado Doutor Preto de Londrina.
Ontem estive no Serafini, onde conversei com um dos colegas de Joel. Os funcionários e clientes do restaurante estão chocados e consternadíssimos. Aquele pedaço de Londrina nunca mais será o mesmo sem o Joel.
Depois, na frente do seu estacionamento, fui abordado por um casal com os três filhos pequenos. Eram vizinhos.
"O que aconteceu?", perguntaram.
Tive que lhes dar a notícia ali, ao sol da uma da tarde. A mulher chorou, o rapaz ficou petrificado, as crianças sentiram o peso da tristeza. Ali, no endereço do médico que tantas vidas salvou e curou, eu era obrigado a dar uma notícia de morte. Doloroso dever!
E agora, quem vai consolar e amparar essa família que ficou sem o pai? Quem vai cuidar do menino cadeirante? Quem vai enxugar as lágrimas dessa viúva? Onde estão, agora, aqueles que vivem de falar mal da polícia e condenar a repressão aos criminosos? Onde estão os direitos humanos do pobre trabalhador e empresário chamado Joel de Paula, que perdeu a vida porque não aceitou ver o filho sendo ameaçado?
O nome Joel tem origem hebraica e significa "o Senhor é Deus". Depois de passar tantos anos cuidando das chaves dos outros, agora ele terá em mãos a chave da vida eterna. Posso imaginar São Pedro dizendo:
"Entra, Joel! Pra você a porta nunca está trancada."
Ali, ao lado, o Doutor Preto faz uma silenciosa oração em latim e deixa cair uma lágrima.

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