A galinha empreendedora
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
por Paulo Briguet
Professor José Pastore é um admirável intelectual brasileiro, que há muitos anos luta para tirar o nosso país do abismo. Circulam pela internet duas historietas que às vezes vêm com a sua assinatura. Não sei se foi Pastore que as escreveu, mas acho que poderia ter escrito. Por isso, compartilho-as com meus sete leitores:
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MESTRE E GAFANHOTO
Mestre, mestre!
Fale, gafanhoto.
E os trabalhadores, com essa reforma trabalhista?
O que têm eles?
A vida dos empresários ficou molezinha agora, vão poder explorar os empregados.
Peça demissão então. Ninguém obriga você a trabalhar pro seu patrão.
Mas aí eu faço o quê da vida, mestre?
Ora, vire empresário, gafanhoto! Ouvi falar que a vida deles ficou molezinha.
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FÁBULA DA GALINHA
A galinha convidou seus vizinhos para plantar trigo. E disse aos outros animais:
Se plantarmos trigo, teremos pão para comer. Alguém quer me ajudar?
Eu não informou a vaca.
Nem eu esquivou-se o pato.
Eu também não repetiu o porco.
Muito menos eu gritou o ganso. Faço parte de outro sindicato.
Então eu mesma planto falou a galinha.
E plantou. O trigo cresceu e amadureceu em grãos dourados.
Quem vai me ajudar a colher o trigo? perguntou a galinha.
Eu não respondeu o pato.
Não faz parte de minhas funções declarou o porco.
Não! escandalizou-se a vaca. É trabalho análogo à escravidão!
Não ajudo porque perderei o seguro desemprego desculpou-se o ganso.
Então falou a galinha eu mesma colho.
E colheu. Com isso, chegou a hora de preparar o pão.
Quem vai me ajudar a assar o pão? indagou a galinha.
Só se me pagarem hora extra condicionou a vaca.
Não posso porque vou perder meu auxílio-doença lamentou o pato.
Se só eu ajudar, é discriminação afirmou o ganso.
Ô, galinha! Pare com essa insistência! Isso é assédio moral bradou o porco.
Então eu mesma asso disse a galinha.
E assou cinco pães.
De repente, todo mundo queria pão. Mas a galinha disse:
Não, agora eu vou comer os cinco pães sozinha.
Lucros excessivos! gritou a vaca.
Sanguessuga capitalista! revoltou-se o pato.
Eu exijo direitos iguais reivindicou o ganso.
Injustiça! Discriminação! Assédio! gritou o porco.
Instalada a confusão, chegou um agente do governo. Dele, a galinha ouviu o seguinte:
Você não pode ser assim egoísta.
Mas eu ganhei esse pão com meu próprio suor defendeu-se a galinha.
Mas aí é que está. Os mais produtivos têm que dividir o produto de seu trabalho com os que não fazem nada. País rico é país sem pobreza!
A galinha engoliu em seco e se calou. Calou-se de uma vez. Os vizinhos perguntam até hoje por que, desde então, ela nunca mais fez absolutamente nada...