Imagem ilustrativa da imagem A galinha empreendedora
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Professor José Pastore é um admirável intelectual brasileiro, que há muitos anos luta para tirar o nosso país do abismo. Circulam pela internet duas historietas que às vezes vêm com a sua assinatura. Não sei se foi Pastore que as escreveu, mas acho que poderia ter escrito. Por isso, compartilho-as com meus sete leitores:


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MESTRE E GAFANHOTO
— Mestre, mestre!
— Fale, gafanhoto.
— E os trabalhadores, com essa reforma trabalhista?
— O que têm eles?
— A vida dos empresários ficou molezinha agora, vão poder explorar os empregados.
— Peça demissão então. Ninguém obriga você a trabalhar pro seu patrão.
— Mas aí eu faço o quê da vida, mestre?
— Ora, vire empresário, gafanhoto! Ouvi falar que a vida deles ficou molezinha.

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FÁBULA DA GALINHA
A galinha convidou seus vizinhos para plantar trigo. E disse aos outros animais:
— Se plantarmos trigo, teremos pão para comer. Alguém quer me ajudar?
— Eu não — informou a vaca.
— Nem eu — esquivou-se o pato.
— Eu também não — repetiu o porco.
— Muito menos eu — gritou o ganso. — Faço parte de outro sindicato.
— Então eu mesma planto — falou a galinha.
E plantou. O trigo cresceu e amadureceu em grãos dourados.
— Quem vai me ajudar a colher o trigo? — perguntou a galinha.
— Eu não — respondeu o pato.
— Não faz parte de minhas funções — declarou o porco.
— Não! — escandalizou-se a vaca. — É trabalho análogo à escravidão!
— Não ajudo porque perderei o seguro desemprego — desculpou-se o ganso.
— Então — falou a galinha — eu mesma colho.
E colheu. Com isso, chegou a hora de preparar o pão.
— Quem vai me ajudar a assar o pão? — indagou a galinha.
— Só se me pagarem hora extra — condicionou a vaca.
— Não posso porque vou perder meu auxílio-doença — lamentou o pato.
— Se só eu ajudar, é discriminação — afirmou o ganso.
— Ô, galinha! Pare com essa insistência! Isso é assédio moral — bradou o porco.
— Então eu mesma asso — disse a galinha.
E assou cinco pães.
De repente, todo mundo queria pão. Mas a galinha disse:
— Não, agora eu vou comer os cinco pães sozinha.
— Lucros excessivos! — gritou a vaca.
— Sanguessuga capitalista! — revoltou-se o pato.
— Eu exijo direitos iguais — reivindicou o ganso.
— Injustiça! Discriminação! Assédio! — gritou o porco.
Instalada a confusão, chegou um agente do governo. Dele, a galinha ouviu o seguinte:
— Você não pode ser assim egoísta.
— Mas eu ganhei esse pão com meu próprio suor — defendeu-se a galinha.
— Mas aí é que está. Os mais produtivos têm que dividir o produto de seu trabalho com os que não fazem nada. País rico é país sem pobreza!
A galinha engoliu em seco e se calou. Calou-se de uma vez. Os vizinhos perguntam até hoje por que, desde então, ela nunca mais fez absolutamente nada...