Imagem ilustrativa da imagem A Catedral da Dor



Nós todos moramos em uma construção que não é feita de pedra. Somos habitantes de uma catedral onde os tijolos são o corpo, a alma e o sangue. Assim seremos conduzidos ao verdadeiro lar.

Tenho estudado a vida dos santos, dos mártires, dos justos. Cada fenômeno de santidade possui algo de original e único, mas há uma coisa que lhes é sempre comum: o sofrimento. Não existe vida sem dor. Acho que já escrevi isto, mas não custa fazê-lo outra vez: — Viver é doer.

Se você observar o desenho de uma catedral gótica, descobrirá que vista de cima — do céu — ela possui o formato de uma cruz, graças à intersecção da nave central e do transepto. Segundo alguns autores antigos, o Monte do Calvário é nada menos do que o crânio do primeiro homem. A cruz é a nova Árvore da Vida, erguida sobre o corpo, a alma e o sangue. Naquele momento, estava sendo construída a primeira catedral. Na verdade, a única; todas as outras, por mais lindas que sejam, constituem meros reflexos da cruz.

A Catedral da Dor é uma obra eternamente inacabada. A cada dia, você e eu acrescentamos mais um detalhe no imenso edifício das paixões humanas. Imagine a soma de todas nossas incredulidades, nossas dúvidas, nossas angústias, nossas dívidas, nossos silêncios, nossos fantasmas, nossas hesitações, nossos medos, nossas covardias, nossos erros, nossos crimes, nossos pecados. Imagine que essas coisas todas fossem edificadas por mãos onipotentes. Eis o que nós somos: um mistério doloroso.

Do lado de fora das catedrais medievais, existem as gárgulas. Além de atenderem a uma função prática — escoar a água das chuvas — essas estátuas monstruosas cumprem o papel de afastar os homens sem fé. Na vida, enfrentamos multidões de gárgulas: basta ligar a TV e você verá muitas delas. Notem como tantas pessoas de nosso tempo, especialmente os jovens, vêm destruindo a si mesmas com a ideologia das drogas ou a droga das ideologias. Não é por acaso que as gárgulas também são chamadas de quimeras: elas odeiam a própria estrutura da realidade. Odeiam a dor, odeiam catedrais. Não querem que ninguém reconheça a Catedral da Dor.

Hoje é segunda-feira, mas a Catedral da Dor está de portas abertas para quem quiser frequentá-la. Ninguém será rejeitado; só deixam de entrar aqueles que livremente optarem por permanecer do lado de fora, na companhia das quimeras. Com algum esforço, você poderá subir as escadarias que conduzem ao alto da torre, e de lá terá uma visão panorâmica do mundo, como aquela que Jesus teve ao ser tentado no deserto. Mas não pense que a torre é a salvação, só por estar situada em um lugar fisicamente mais alto. A verdadeira contemplação não mora ali.

Meu querido Padre Kentenich — que ergueu sua catedral na forma de uma igrejinha — dizia que a voz do tempo é a voz de Deus. Só através do tempo podemos alcançar a eternidade. Eis a promessa da Catedral da Dor: sobre o altar, existe um coração — corpo e alma e sangue. Ali o Jardim das Oliveiras voltará a ser Jardim do Éden. E a dor será alegria, domingo para sempre.

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