Expectativa de queda na taxa de juros
Há um apelo geral do setor produtivo quanto à necessidade de queda na taxa de juros e não sem razão.
Reportagem do dia 23 de maio aqui na Folha de Londrina, com o título "Feito para não empreender", mostra que seis em cada dez de nossos varejistas não tomam crédito para estimular seus negócios, em razão dos juros extorsivos.

O juro é o custo do dinheiro
Se o custo de tomar dinheiro a crédito ultrapassar a margem de lucro da empresa, perde-se o incentivo de investir por meio de empréstimos. Por outro lado, quem empresta dinheiro, busca o maior rendimento.
Se os títulos do governo remuneram melhor, o dinheiro deixa de ir para o setor produtivo e vai para financiar as dívidas do governo. Juros altos também afastam o consumidor final de tomar crédito para comprar produtos de maior valor agregado.

Resumo da ópera
Juros elevados inviabilizam a produção e o consumo, que em última instância significa gerar menos emprego, menos renda e é claro, impede a retomada do crescimento econômico.

Quem define a taxa básica de juros
É o Banco Central do Brasil, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom). Este se reunirá nos dias 30 e 31 de maio e definirá a nova taxa básica de juros que vigorará para esse próximo período.

A coisa funciona assim
A taxa básica de juros remunera o dinheiro que é emprestado ao governo para ele ‘rolar’ sua dívida.
Essa taxa de juros serve de base para a formação da taxa de juros para outros tomadores de dinheiro, ou seja, as taxas de juros dos empréstimos vão subindo na medida que sobe o risco de emprestar e não receber.
Por exemplo, é menos arriscado emprestar dinheiro para o governo, comprando títulos públicos do que emprestar dinheiro para financiar o cartão de crédito.

Como o Copom define a taxa básica de juros
Entre os parâmetros levados em consideração para a definição da taxa básica de juros estão: os juros pagos nos títulos públicos da dívida americana, considerada de risco zero, o risco cambial, a taxa de inflação e o risco Brasil.
Na taxa de juros americana não temos qualquer controle. O risco cambial é série histórica e não se altera no curto prazo. Resta, portanto, duas variáveis a serem consideradas: taxa de inflação e Risco Brasil.

Esperávamos uma queda significativa
Pois é. A expectativa era por uma queda entre 1,25 e 1,5% na taxa básica de juros que hoje está em 11,25% a.a., pois o Risco Brasil estava em queda, e a inflação idem.
No entanto, desde a denúncia promovida pelos gestores da JBS na semana passada, o cenário se alterou e para pior.

Diminuiu a chance de uma queda maior
Com as denúncias, a possibilidade de aprovação pelo congresso das medidas que reduzem o endividamento do governo, (só o governo federal tem uma dívida de R$ 3,2 trilhões que cresce 11% ao ano), ficou muito mais difícil.
Se as dívidas continuarem sua trajetória de aumento, sobe o Risco Pais (o risco de o país não conseguir honrar seus compromissos), e, por conseguinte tende a elevar a taxa básica de juros.
Outra consequência foi a desvalorização do real frente ao dólar, que significa potencial de aumento da inflação, outro dos indicadores importantes na formação da taxa básica.

E então?
Primeiro vale lembrar que não é papel do Banco Central promover o crescimento econômico e sim o de garantir o poder de compra da moeda, em outras palavras, sua função é controlar a inflação (abordarei isso na nossa próxima coluna).
A promoção do crescimento e desenvolvimento econômico é função do BNDES e outros órgãos da administração federal.
Segundo, as condições reinantes agora são diferentes, para pior, daquelas presentes nas análises do início da semana passada.
O Copom, como órgão eminentemente técnico, levará isso em consideração e não fará um corte na taxa de juros na mesma medida que se esperava.
Uma aposta conservadora, com base nos indicadores apresentados é em um corte entre 0,5 e 0,75%. Aguardemos.

Marcos J. G. Rambalducci é professor doutor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e consultor econômico da Acil
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