Não existe um tema específico que paute a coluna Histórias Mínimas, o leitor escreve e a mim cabe a função especial de ler. Os temas subentendidos são apenas um modo de organização pessoal que aprendi no livro "A mágica da arrumação" de Marie Kondo.

Nas duas primeiras semanas de postagens falamos sobre fantasias e realidade, sobre amor e realidades. Hoje, nossos leitores falam sobre o Outono, a estação do ano e da vida. E, não há nada como divagar sobre passagem do tempo enquanto a gente espera o inverno chegar.

Beijos e me escrevam. Já decoraram o e-mail? [email protected]

Patrícia Maria


DIAS MAIS SÉRIOS E PESSOAS TAMBÉM


Ah, o Outono! Para mim a função dessa época é nos preparar para uma estação ainda pior, o Inverno. Tempos frios não me encantam nem um pouco. A impressão que tenho é que os dias ficam com um ar mais sério e por alguns momentos parece-me que as pessoas adotam essa seriedade para si.

Durante os dias de frio cortante, ao transitarmos pelas ruas, tudo que se vê são pessoas com seus casacos, gorros, cachecois, luvas e tudo mais que encontrarem pela frente. Viram cobertores ambulantes carrancudos por terem deixado a cama quentinha, quando a vontade mesmo era de por lá ficar. E vai tentar arrancar um sorriso desse povo. Nenhunzinho sequer! Na verdade, se consegue um aqui outro ali é só reparar nas crianças. Para elas não tem tempo ruim. Frio? Não sentem nunca.

A noite chega e sair de casa só se a razão for das boas. Ninguém quer por a cara para fora.
É a época de hibernar. Tempo em que as casas viram verdadeiros casulos. As falas das mães são praticamente iguais, independente da idade que temos. "Feche a porta está frio! Olha essa janela aberta vai ficar gripado! Coloque a touca! Pegou o casaco?"

Por tudo isso é que gosto do Sol. Há de ser forte para aguentar os quarenta graus é verdade, mas as pessoas ficam mais alegres no Verão. Irradiam. São solares. E por dias assim há um longo caminho pela frente.

Até lá tenho um recurso que funciona super bem, muito chocolate quente para aquecer a gente.

CRISTINA CARDOSO é leitora da Folha de Londrina.


Cristina, eu costumo esperar o inverno com a mesma paixão que você, o verão. Faria minhas as suas palavras, só que tudo ao contrário, menos a parte do chocolate, vou fazer um agora em sua homenagem. *Esse lance de ser forte no calor de 40ºC pauta meu desalento. Abraços.


MELHOR IDADE



Alguns falam que nós, que estamos ficando idosos, estamos na melhor idade. Que melhor idade é essa em que, se vamos viajar, esquecemos a escova de dente, a camisola ou até mesmo o carregador do celular?

Melhor idade em que, frequentemente, visitamos o consultório de uma ou outra especialidade médica e recebemos pedidos de muitos exames?

Idade em que, vez por outra, não nos lembramos do nome da pessoa que está falando conosco? Ou esquecemos as datas de aniversário dos entes queridos?

Melhor idade, só se for para os capitalistas que, cientes de que temos muito pouco com que gastar agora, em se tratando de luxos e desejos, inventaram essa expressão para que nos sintamos um pouco mais jovens e valorizados e, portanto, dispostos a fazer uma ou outra coisa que 'inventaram' para que gastemos o pouco que temos.

Imagine que nossos pés não querem mais levantar do chão e por isso andamos arrastando-os, coisa que muita gente detesta e que nos causa muitos acidentes por quedas. Tudo em nós se torna mais lento: a digestão, os reflexos, o andar, os gestos, a comunicação, o raciocínio, etc. E isso irrita os de menos idade por não conhecerem que essas são características de uma etapa vital, ou mesmo por não saberem respeitar esse momento nosso, haja vista que ainda se encontram em fases da vida em que a pressa e a correria são a tônica.

Calculem que, quanto mais nossa idade aumenta temos a necessidade de que não se mudem as coisas de lugar para que não as esqueçamos, evitando assim que nos sintamos atarantados até absorver por completo tal mudança.

Ficamos na idade que todos chamam de 'condor' e acho que é por que aumentam nossos problemas de saúde, de modo que a toda hora uma dor nova nos acomete. E são remédios diversos que a maioria de nós quase nem consegue administrar e que, servindo a uma finalidade especifica, podem ser administrados equivocadamente nos causando outros problemas de saúde ou efeitos colaterais.

E ficamos cada vez mais propensos a: ter menos paciência com os outros, a deixar 'escorregar' da boca palavras que jamais desejaríamos haver dito, chorar por pouca ou coisa nenhuma, ter momentos depressivos, sermos mais ansiosos que preocupados etc.

Êta etapa difícil essa chamada de melhor idade.

MARINA I. BEATRIZ POLÔNIO é escritora em Cambé


Marina, sabia que, na ocasião de seus 95 anos, perguntaram à atriz Betty White qual era o segredo da longevidade e ela respondeu "Uma memória ruim e bom humor". E, ela acrescentou que ter uma casa de dois andares com a memória que mantém é a sua rotina de atividade física. Tomei nota!

SOBRE-AMOR



Essa é uma história de amor. E sobre amor. Parece não existir diferença, e por muito tempo eu achei que não existisse, mas ao refletir sobre a vida de meus avós, eu descobri que existe sim. Histórias de amor estão por aí, sendo contadas, sendo vividas, sendo esquecidas. Mas histórias sobre o amor, e como ele se manifesta de diferentes formas com o passar dos anos são poucas. Pouco se fala sobre o amor. Sobre as dificuldades da vida partilhada, sobre o 'sim' e os nãos necessários, sobre as vezes em que se engole o eu para existir o nós.

Eu vi o amor entre meus avós, e percebi que mais que uma história de amor, eles viviam o amor. Não, nem tudo eram flores. Há algum tempo, e eu não sei dizer precisamente quanto tempo, eles não dormiam mais juntos, e eu também não sei dizer o porquê, só sei que era cada um com seu quarto e sua privacidade. Há um bom tempo eles discutiam sobre qualquer assunto e, às vezes, a discórdia era tanta, que eles nem sabia mais pelo que discutiam, apenas não queriam dar o braço a torcer.

Há algum tempo eles nem ao menos trocavam carícias um com o outro. Mas nunca faltou o respeito. Respeitavam um ao outro pelos anos juntos. Pelo convívio. Pelo amor. Foi amor quando eles se acidentaram, ela se machucou, e ele foi dormir com ela toda noite para cuidar dela e estar ali caso ela precisasse. Não era por culpa, era por amor. Foi amor quando ela se juntou aos filhos e preparou uma festa quase surpresa para comemorar os setenta anos de vida dele. Foi amor quando, no discurso de agradecimento dessa festa, ele mencionou os cinquenta anos ao lado dela. Foi amor quando ela o encontrou no chão da sala, e mesmo desesperada não saiu do lado dele.

Foi amor quando ela foi ao hospital duas vezes por dia, para visita-lo. Foi amor quando eu a vi conversando com ele no hospital, da forma mais carinhosa possível, e foi a primeira vez que eu a vi agindo dessa forma. Foi amor nos trinta e quatro dias que ela deixou o conforto da casa para ficar com ele, enquanto ele oscilava entre um quarto de hospital e a UTI. Foi amor quando ele se foi e ainda sim ela estava lá. Foi amor porque mesmo com os erros e outros motivos para não estar lá, ela esteve. Foi amor em cada momento. Foi e ainda é.

Amor é construção. Doação diária. É a importância que você dá as pessoas com quem convive. Amor é tempo. Amor é cura. Não tenho dúvida alguma de que meus avós se amaram, e se amam. Eles fizeram valer a promessa de que apenas a morte os separaria. E eu não duvido do amor. Porque mais do que viver esse amor, eles me ensinaram sobre como enxergar o amor.

GABRIELA MENEGUETTI é estudante em Londrina.


Eu chorei Gabriela, sem mais.



E, como estamos construindo aqui uma tradição, amanhã tem! Espero vocês aqui e suas histórias no e-mail [email protected]

Beijos.