É oportuno aproveitar a entrada de um novo governo para trazer à baila discussões que realmente promovam melhoria no bem-estar da sociedade, evitando equívocos que tem se perpetuado em nossa história econômica.

Busquei neste espaço trazer o entendimento de como a inflação é perniciosa para uma economia especialmente quando incide sobre os alimentos.

Mas mais que isso, buscando descrever o fenômeno, apontar suas causas e consequências. Hoje a atenção volto a atenção para a forma de percorrer um caminho que leve a uma real valorização do salário-mínimo.

E adianto, soluções fáceis e retiradas da gaveta como passe de mágica não existem.

Inflação é fruto de desequilíbrio ...

Sendo a consequência de desequilíbrio entre a quantidade de dinheiro disponível para o consumo e a quantidade de produtos no mercado, a inflação, atua como um mecanismo automático buscando reequilibrar esta balança.

... provocado pelo próprio governo...

Uma das causas deste desequilíbrio foi provocado pelo governo passado ao aumentar substancialmente a quantidade de dinheiro para o consumo às famílias em situação de vulnerabilidade. Mais pessoas comprando alimentos, sem que houvesse excedentes para serem disponibilizados provocaram sua elevação de preços.

... ‘democratiza’ o consumo...

Neste caso, o aumento de dinheiro para os mais pobres, força uma redistribuição da quantidade de produtos disponíveis. Ou seja, cada um come um ‘pouquinho menos’ para que todos possam comer. Esse papel é desempenhado pela inflação.

... ao estabelecer perdas

Esse ‘pouquinho menos’ foi de 12,55% em 2022. Ou seja, esta foi a perda de poder aquisitivo do salário-mínimo em termos de cesta básica de alimentos ao longo do ano passado.

O clamor popular...

A resposta mais ‘óbvia’ seria recompor este poder de compra aumentando o valor da salário-mínimo pelo menos a este patamar, e talvez incluindo algum ‘aumento real’ para caracterizar uma política de valorização do salário-mínimo. Ora, nada mais errado.

... repete o mesmo erro

Valorizar o salário-mínimo não é aumentá-lo em Reais e sim aumentar a quantidade de produtos que ele adquire. Deveria ser óbvio para qualquer um que, sem aumentar a quantidade de produtos, a elevação do salário-mínimo somente causa inflação.

O foco tem que estar na oferta...

A solução passa por controlar o consumo neste momento, e simultaneamente, criar as condições necessárias para estimular a produção de alimentos da cesta básica por meio de políticas públicas direcionadas neste sentido.

... com políticas bem direcionadas...

Estímulo para implementar tecnologias que levem ao aumento da produtividade nas pequenas propriedades agrícolas, infraestrutura adequada para escoamento da produção, incentivos a adoção de melhores práticas de armazenamento de perecíveis está entre estas medidas.

... dentro do contexto atual

Esta lógica vale para toda e qualquer situação em que a economia não esteja operando abaixo de sua capacidade de produção. Caso fosse este o caso – o que não é, estimular a demanda seria uma medida adequada.

Nem bala de prata nem pistola de ouro

Não há nenhuma solução mágica que possa ampliar a quantidade de produtos ofertados de uma hora para outra, e tampouco ninguém que sozinho vá conseguir reestabelecer milagrosamente o poder de compra do salário-mínimo. Isto é um processo e precisa ser construído.

Sem populismo inconsequente

Mas se o governante do momento decidisse por aumentar o salário-mínimo em 100%, seria aclamado como o pai dos pobres. O ‘homem’ que valorizou o trabalhador e o trabalho.

Infelizmente não é assim que são construídas as verdadeiras políticas sociais.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, Professor da UTFPR