A coluna passada (2), trouxe elementos para uma melhor compreensão sobre inflação e como seu controle precisa ser feito restringindo a demanda. Este entendimento contraria quem defende controle da inflação pelo aumento da oferta, e procurei mostrar como tal raciocínio não é factível. Mas o controle da inflação não pode significar renunciar a crescimento econômico. É possível e necessário traçar políticas econômicas que conciliem as duas iniciativas.

Inflação é resultado de desequilíbrio ...

A inflação é resultado de um desequilíbrio entre o dinheiro disponível para comprar e a quantidade de produtos ofertados. Se há mais dinheiro que produto, os preços sobem. Fica claro que estimular o consumo só aumenta a pressão sobre os preços.

... não passível de correção pela oferta ...

E não é factível pensar que basta aumentar a quantidade de produtos para retomar o equilíbrio entre oferta e demanda, simplesmente porque toda produção é resultado de demanda anterior, ou seja, é preciso primeiro comprar os insumos (demandar) para depois ofertar o produto acabado.

... pois ela é fruto de demanda anterior.

Há o equívoco de considerar que só é demanda quando dirigidos a produtos finais. Não. Produtos finais são o resultado da demanda de todos os insumos utilizados para sua produção. Portanto, se a demanda é por produtos finais ou produtos utilizados pela indústria, não faz qualquer diferença, pois ambas as demandas são o mesmo.

É preciso controlar o consumo...

Desta forma, para controlar a elevação nos preços, o equilíbrio precisará ser feito com redução da demanda, ou seja, retirando dinheiro disponível para comprar (seja de bens de consumo final, seja de insumos para a produção destes bens).

... retirando dinheiro disponível ...

A forma mais eficiente de fazer isso é tornar mais interessante a quem tem dinheiro, emprestá-lo ao governo em vez de gastá-lo na compra (de novo, seja de bens de consumo final, seja de insumos para a produção). E para deixar mais atraente emprestar dinheiro ao governo, o Banco Central, aumenta a taxa de juros que é o que remunera o dinheiro emprestado.

... equilibrando a balança.

Pronto, com menos dinheiro para gastar, menor a demanda e assim se consegue o ajuste entre quantidade de dinheiro disponível para gastar e quantidade de produtos disponíveis no mercado.

Mas controle da inflação é recessivo ...

Isso pode ser uma solução para o controle da inflação que é danosa para qualquer economia, mas o que faz um país melhor é o aumento da produção e esta solução de controle de inflação vai justamente em sentido contrário a este crescimento.

... e precisa de seu contraponto ...

Enquanto se mantém os juros altos para equilibrar a demanda de acordo com a produção, é preciso tomar medidas voltadas a aumentar a capacidade produtiva e a produtividade do sistema.

... com foco na capacidade produtiva.

Aumentar a capacidade produtiva significa investir em máquinas e equipamentos que elevem o potencial de produção. Aumentar a produtividade significa fazer mais com a mesma quantidade de matéria prima.

Incentivar a compra de máquinas ...

Para tanto, é preciso estimular a aquisição dos chamados bens de capital (máquinas e equipamentos) por meio de incentivos fiscais, juros subsidiados, redução de impostos de importação.

... investir na infraestrutura ...

implementar medidas de investimento em infraestrutura que reduza os custos de mobilidade por meio da melhoria da logística aeroportuária, especialmente por meio de parceiras público-privadas.

... e treinar a força de trabalho.

Formar profissionais em todas as áreas do setor produtivo, com condições de, rapidamente, estarem disponíveis para absorção, portanto, com ênfase em cursos técnicos de ensino médio.

Isso também é demanda...

Atender a estes três pilares também significa consumir. É verdade. A diferença está no propósito. A demanda pode levar ao stress do sistema produtivo ou pode ampliar a capacidade do sistema produtivo. A defesa aqui é pela segunda opção.

..., mas, feita com critério.

Uma vez criadas as condições para atender a um aumento na demanda, a redução nos juros fará o resto.