São Paulo - Os governos da França e do Reino Unido trocaram acusações nesta quinta-feira (25), um dia após 27 migrantes morreram ao tentar cruzar o Canal da Mancha, no maior desastre desse tipo na região desde 2014, quando os dados começaram a ser coletados.

Desde o início do ano, cerca de 31,5 mil migrantes realizaram a travessia do Canal da Mancha, e ao menos 7.800 foram resgatados por agentes de segurança
Desde o início do ano, cerca de 31,5 mil migrantes realizaram a travessia do Canal da Mancha, e ao menos 7.800 foram resgatados por agentes de segurança | Foto: Bens Stansall/AFP/24-11-2021

O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, disse que os dois países precisam trabalhar juntos, mas logo acrescentou que Londres tem uma má gestão da imigração. A uma rádio local, afirmou que os migrantes são frequentemente atraídos pelo mercado de trabalho britânico. "É um problema internacional; dizemos aos nossos amigos belgas, alemães e britânicos que eles deveriam nos ajudar."

Já o premiê britânico, Boris Johnson, disse que Paris não está agindo o suficiente para controlar o fluxo de migrantes. Sobre a possibilidade de oferecer uma rota segura para os migrantes pedirem asilo na França, afirmou, por meio de um porta-voz, que a abordagem aumentaria os fatores de atração e "criaria um fator adicional para que gangues explorem pessoas com essas tentativas perigosas [de travessia]".

O secretário de Estado britânico para assuntos de imigração, Tom Pursglove, informou à emissora BBC que Boris reiterou ao governo francês uma proposta recusada anteriormente por Paris para organizar patrulhas franco-britânicas nas costas francesas, de modo a impedir que embarcações partam do local em direção ao Reino Unido.

O presidente francês, Emmanuel Macron, por sua vez, defendeu as ações de Paris. Durante uma visita oficial à capital croata, Zagreb, disse que a França é apenas um país de trânsito para muitos migrantes e que uma maior cooperação da comunidade europeia é necessária para conter o fluxo de imigração ilegal. Entre as vítimas do naufrágio estão 17 homens, sete mulheres e três crianças, de acordo com as informações mais recentes fornecidas por autoridades locais de Lille, cidade francesa próxima à costa do país.

O ministro Darmanin informou que duas pessoas sobreviveram - um iraquiano e um somali - e estavam com grave hipotermia até a noite de quarta (24). Os restos da embarcação serão examinados para esclarecer as causas do naufrágio, e cinco pessoas foram detidas por suspeita de tráfico de pessoas.

Desde o início do ano, cerca de 31,5 mil migrantes realizaram a travessia do Canal da Mancha, e ao menos 7.800 foram resgatados por agentes de segurança, de acordo com os dados locais. O fluxo não reduziu nem sequer com as baixas temperaturas do inverno.

A colaboração entre França e Reino Unido na área para conter a migração histórica é regida pelo acordo de Le Touquet, assinado em 2003. O entendimento prevê que agentes de controle de imigração franceses atuem nos postos da fronteira britânica e vice-versa.

Políticos franceses ligados à ultradireita já tentaram fazer o país abandonar o acordo. Nesta quinta, o Ministério das Relações Exteriores da França disse, em comunicado, que o entendimento continuará a ser a base para o controle do fluxo na fronteira.

ONGs voltadas para a questão migratória se manifestaram após a morte dos 27 migrantes, demandando mais ação dos governos. Algumas afirmam que a forma como o policiamento é feito no local coloca os migrantes em maior risco, ao tentarem fugir dos agentes.