Imagem ilustrativa da imagem Vídeo com citação de Goebbels testa limites, diz especialista
| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Controverso desde sua chegada à Secretaria Especial de Cultura do Ministério da Cidadania, o dramaturgo Roberto Alvim encerrou sua participação no governo federal de forma deplorável. Se ao assumir o posto disparou em tom agressivo contra a atriz Fernanda Montenegro, em setembro passado, ele foi demitido nesta sexta-feira (17) pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em consequência da divulgação de um vídeo em que o discurso parafraseia o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels, além de a gravação se assemelhar na estética do poderoso assessor de Adolf Hitler.

Em nota oficial, Bolsonaro classificou o episódio como “infeliz” e ressaltou que, mesmo que Alvim tenha se desculpado, o episódio “tornou insustentável a sua permanência” no governo. “Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas”, afirmou. “Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum”, acrescentou.

No discurso postado nas redes sociais, Roberto Alvim disse: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada.” O texto original, datado de 8 de maio de 1933 em um pronunciamento para diretores de teatro, segundo o livro “Joseph Goebbels: uma Biografia”, de Peter Longerich, seria “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferramenta romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.

TOLERÂNCIA

Na opinião do cientista político Rodrigo Prando, professor de Sociologia e Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o ato testa a paciência e a tolerância dos cidadãos. “Não podemos afirmar que o presidente ou o governo sejam nazistas, isso é um discurso equivocado. O Bolsonaro, até por sua origem militar, flerta com o autoritarismo, mas isso o próprio PT também faz”, compara Prando, que conclui. “No entanto, o incidente é sério, beira a afrontar os direitos humanos. Em casos como esse parece que os apoiadores do governo estão medindo os limites da sociedade e das instituições, que estão funcionando em sua plenitude”, diz.

De fato, as reações ao vídeo de Alvim foram imediatas. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli dispararam contra o pronunciamento e cobraram uma resposta do governo. “O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo”, afirmou Maia nas redes sociais antes da decisão de Bolsonaro. Já Alcolumbre, que é judeu, qualificou em nota o discurso de Alvim de “acintoso, descabido e infeliz”. Por fim, Toffoli disse que a fala foi “uma ofensa ao povo brasileiro”.

Ao longo da manhã, deputados e senadores entraram em contato com o Palácio do Planalto cobrando a exoneração do secretário de Cultura. Segundo relatos, líderes da comunidade judaica, cujo apoio ao governo é considerado estratégico pelo presidente, também pediram a Bolsonaro a demissão de Alvim. Vale recordar que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, compartilha de simpatia pública por Bolsonaro, tendo sido um dos poucos chefes de estado presentes na posse em janeiro do ano passado. (Com Folhapress)

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