O Brasil consome 20% de todo o agrotóxico comercializado no mundo e na lista dos Estados brasileiros com maior utilização desses produtos em suas lavouras, o Paraná ocupa a segunda colocação. Entre 2012 e 2014, a média anual de uso de defensivos agrícolas por produtores rurais paranaenses foi de 112.955 toneladas. O Estado só fica atrás do Mato Grosso, onde foram utilizadas 191.439 toneladas de agroquímicos ao ano no período analisado. São Paulo ocupa o terceiro lugar, com 110.774 toneladas. Os dados são do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, elaborado pela professora do Departamento de Geografia da USP (Universidade de São Paulo) Larissa Mies Bombardi, publicado em 2017.

O estudo enumerou também os casos de intoxicação por defensivos agrícolas e a Região Sul do País lidera a classificação, com 5.547 notificações de pessoas intoxicadas entre 2007 e 2014. Levantamento do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) sobre o uso de agrotóxicos no Estado apontou que os defensivos agrícolas classificados como extremamente tóxicos e altamente tóxicos foram os mais empregados no Paraná no ano de 2015, representando, respectivamente, 31,37% e 38% do total de defensivos aplicados. Em 17 bacias hidrográficas do Estado, houve um aumento no consumo dos produtos extremamente tóxicos. Os herbicidas, empregados no controle de ervas daninhas, é a classe mais utilizada nas lavouras, com 55% do total. O percentual de inseticidas foi de 21% e de fungicidas, 16%. Segundo o Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal), as vendas de defensivos agrícolas no Brasil movimentam quase US$ 10 bilhões ao ano.

Os números impressionam, mas segundo profissionais da área da agricultura, o volume crescente de defensivos químicos utilizados nas lavouras brasileiras não representa riscos à saúde e à segurança alimentar da população. O argumento são os dados comparativos com países desenvolvidos, especialmente o Japão, campeão em uso de agrotóxicos, mas também em longevidade populacional. O país asiático utiliza 11,75 quilos de agrotóxicos por hectare, volume dez vezes maior do que o empregado nas lavouras brasileiras, com 1,16 kg/ha, segundo dados reunidos pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e pelo Banco Mundial. No ranking, o Brasil ocupa o quinto lugar, atrás da Holanda (4,59 kg/ha), França (2,40 kg/ha) e Alemanha (1,90 kg/ha).

Pesquisador na área de plantas daninhas da Embrapa Soja, Dionisio Gazziero cita ainda números divulgados pela Wageningen University, da Holanda, que coloca os países baixos no topo da lista dos países que mais consomem defensivos agrícolas, com 20,8 quilos por hectare. O Japão vem em segundo lugar, com 17,5 kg/ha, e o Brasil aparece apenas em sexto lugar, com 4,2 kg/ha.

Gazziero reconhece a toxicidade dos defensivos químicos. “São venenos e venenos matam”, afirma o pesquisador. Mas ele destaca que, no Estado, a prescrição, venda e uso desses produtos seguem um rigor que reduz os riscos à saúde da população e ao meio ambiente. “Temos muitos problemas ligados a isso (uso de agrotóxicos), temos muito o que melhorar, mas não estamos intoxicando ninguém”, garante.

Produzir em escala comercial sem fazer uso dos agrotóxicos é impensável no Brasil, ressalta o pesquisador. O clima tropical oferece condições para que os agricultores façam mais de uma safra no ano, mas também favorece a proliferação de insetos e pragas e, para combatê-las, os agroquímicos são necessários. “Estamos fazendo agricultura que produz em escala e o balanço deve ser positivo. Para isso, tem que ter um conjunto de técnicas e, nesse conjunto, estão os agrotóxicos. É muito difícil imaginar que vamos conseguir produzir agricultura para alimentar a população mundial sem agrotóxicos”, diz Gazziero, observando, porém, que o uso deve ser racional.

Diretor técnico da Emater no Paraná, Nelson Harger afirma que o Brasil está no início de uma nova era na agricultura, marcada pela revolução biológica que dispensaria o uso de agroquímicos sem perda na produtividade e na rentabilidade. Mas para que essas novas ferramentas sejam amplamente utilizadas pelos produtores rurais, antes é preciso aperfeiçoar o modelo de produção agrícola, “garantindo máxima produtividade, com máxima rentabilidade, máxima sustentabilidade e máxima estabilidade produtiva”. “Os químicos, hoje, muitas vezes são usados preventivamente. Esse é um problema do modelo. A ferramenta química é importante, mas é usada acima das necessidades, com um número de aplicações além do necessário porque o nosso modelo atual é de máxima segurança e os produtores ainda não adotam de forma efetiva as práticas de monitoramento nas lavouras, que quando feitas adequadamente, reduzem a quantidade de aplicações de defensivos, com economia e sem perda de produtividade e renda.”

O diretor técnico ressalta que não se trata de dividir as discussões entre orgânicos e não orgânicos, mas sim de discutir modelos de produção que garantam um alimento limpo e sem resíduos químicos na mesa dos brasileiros. “Quanto menos aplicações você faz, mais limpo o produto chega ao consumidor e não precisa ser um produto orgânico, basta adotar práticas sustentáveis e fazer o monitoramento da lavoura para aplicar o defensivo quando há riscos de danos.”

A Emater em Londrina mantém duas unidades de referência para demonstrar tecnologia para os produtores de soja do entorno e, segundo o técnico agrícola e mestre em meio ambiente da Emater, Paulo Roberto Mrtvi, há mais de quatro safras têm sido feito o manejo de pragas e doenças. “Acompanhamos semanalmente a evolução, recebemos todas as informações e quando há risco para a lavoura, a decisão de aplicar ou não o defensivo é do produtor.” O monitoramento das lavouras de trigo e milho é feito pela Emater em Alvorada do Sul (Região Metropolitana de Londrina).

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