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Nos dias 15 e 16 de julho, realizamos em Londrina o 5º Congresso Paranaense de Saúde Pública/Coletiva e a 6ª Mostra Paranaense de Pesquisas e de Relatos de Experiências em Saúde. Foi um evento bem-sucedido: 857 inscritos, 328 trabalhos selecionados e premiação do 5º Prêmio Inova Saúde Paraná, 25 minicursos com 640 participantes, centenas de pessoas nas salas das conferências, painéis e de mesas redondas. Participantes de 20 das 22 Regionais de Saúde do Paraná, de pesquisadores e acadêmicos de universidades públicas e privadas, e profissionais das diversas carreiras da saúde dos estados de São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco, Tocantins, Bahia e do Distrito Federal.

Tudo isso realizado de forma remota, em plataforma digital. Uma inovação em tempo recorde. Inauguramos uma nova forma de realizar grandes eventos em saúde de forma participativa e produtiva. Nos dias do evento, tivemos motivos de alegrias a todo o momento pois as superações das dificuldades eram comemoradas intimamente e de forma coletiva.

Comprovei mais uma vez que o trabalho em equipe não só aproxima as pessoas como agrega valores e viabiliza conquistas. No entanto, infelizmente não foi suficiente para vencer barreiras inesperadas e erguidas nas nossas costas. Terminei minha jornada ciente de que tinha cumprido mais uma vez meu papel de promotor do conhecimento científico em saúde.

Ao encerrar os trabalhos, constatei que a entidade promotora, o Instituto Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva - INESCO, entrava em falência porque, no orçamento do evento, a coluna das receitas ficou abaixo da coluna das despesas. Ao contrário do que nos foi dito durante meses, uma das tradicionais instituições apoiadoras retirou-se na última hora argumentando, estranhamente, que a legislação impedia a realização de convênio para repasse dos recursos previamente acordados. No entanto, essa mesma legislação não impediu que nos últimos anos, três convênios tivessem sido firmados, realizados e com as contas aprovadas.

Sinto-me derrotado! Terminamos o evento com um saldo negativo que comprometerá todos os recursos próprios do INESCO, acumulados durante os últimos 7 anos. Foi com um sentimento ambíguo, de alegria e de tristeza, que me despedi dos conferencistas na sessão de encerramento. Vamos honrar os compromissos assumidos. Nem que para isso seja preciso empregar recursos meus, pessoais.

Os que me conhecem sabem que sou transparente. Não escondo o que sinto. Foi por isso que anunciei minha disposição de renunciar ao cargo de diretor-presidente do INESCO. Como já foi dito por alguém, a vida é feita de alegrias e de tristezas, de vitórias e de derrotas. Foi com um misto de sentimentos dessa natureza que encerrei o evento.

Tenho a consciência tranquila por ter contribuído para o desenvolvimento da Saúde Pública do Paraná. Como professor de medicina, como pesquisador da saúde coletiva e como dirigente de entidade que ajudei a resgatar em pleno cortejo fúnebre que ocorria há 7 anos, faço votos que outros assumam o projeto e continuem a trajetória.

A covid-19 não foi mais forte do que a nossa disposição e não impediu a realização do 5º Congresso. Mas a traição e o discurso vazio de autoridades, sem coragem de encarar o “olho-no-olho”, fizeram despertar em mim um sentimento de luto que é impossível esconder.

João Campos é médico sanitarista, docente de Saúde Coletiva do CCS/UEL, diretor-presidente do INESCO e coordenador do 5º Congresso Paranaense de Saúde Pública/Coletiva