SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O número de policiais civis e militares de São Paulo afastados por suspeita de contaminação pelo novo coronavírus quase quadruplicou nas últimas três semanas saltando de 800 para 3.000 os profissionais da segurança colocados em quarentena para tratamento da doença.

Esse contingente é quase toda a força policial do estado do Acre, com seus cerca de 2.500 policiais militares e os cerca de 780 policiais civis, num total de 3.280 agentes, conforme dados do governo acreano. São Paulo tem cerca de 110 mil policiais.

Uma das explicações para essa explosão de casos é a testagem em massa dos efetivos das três policiais iniciada no último 15 pelo governo paulista na capital. Até então, conforme instrução dos órgãos de saúde, apenas os casos mais graves tinham essa verificação.

Essa não é, porém, a única explicação para esse aumento até porque no mês de maio foram registradas dez mortes de policiais civis e militares. Esse número representa o dobro dos óbitos somados nos meses de março e abril deste ano pela Covid-19.

A primeira morte de policial da ativa no estado ocorreu em 31 de março. A sargento Magali Garcia, 46, que trabalhava no centro de operações da PM, o Copom, contraiu o vírus e nâo resistiu à doença . No início de abril, o número de afastados das polícias chegava a 600 integrantes.

Naquele momento, havia ao menos uma semana que o comando da Polícia Militar timha iniciado as primeiras medidas mais concretas de proteção da tropa, como a utilização de luvas e máscaras, além de evitar abordagens desnecessárias de suspeitos.

Também no final de março que a Polícia Civil iniciou a distribuição de equipamentos de segurança para equipes da capital. Em algumas unidades, os policiais também criaram barreiras de proteção para reduzir as chances de contágio.

Outra medida adotada pelo governo paulista foi a ampliação de possibilidade de registro na delegacia eletrônica de quase todos os tipos de crime.

De acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública, o número de registros de crimes pela internet teve um alta de 18,78% entre 25/03 a 24/05 deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Eles foram de 204.713 boletins, em 2019, para 243.168 registros nesse ano -em período já de quarentena.

Apesar do crescimento, nesse período de 2020 foram registradas nas unidades físicas 166.165 boletins de ocorrência. Isso significa quase 2.800 ocorrências por dia no estado. No passado, esse número foi de 228.196.

Para o presidente da Associação dos Delegados de São Paulo, Gustavo Mesquita Galvão Bueno, embora saiba ser uma medida impopular, a gestão João Doria (PSDB) deveria proibir o registro nas unidades policiais de crimes que não sejam graves durante a quarentena.

"Que não caiba ao cidadão a opção de registrar, que seja obrigatório o registro na delegacia eletrônica, deixando a unidade polícia efetivamente para os casos de urgência', disse.

"[Doria] Deveria ter esse mesmo rigor na proteção dos seres humanos policiais, dos seres humanos que labutam na segurança pública, e a proteção do próprio sistema de segurança pública. Que não se for por razões humanitárias, que seja então por razões pragmáticas porque se nós não preservarmos o nosso pouco efetivo policial civil beirar nós podemos beirar a um colapso do nosso sistema de segurança pública."

De acordo com associação, ao menos 356 policiais estão afastados por suspeitas de contaminação pela Covid. Embora em número absoluto seja baixo, diante de efetivo estimado em cerca de 23 mil homens e mulheres, Bueno diz que esse efetivo faz falta à instituição em razão do déficit de servidores que, segundo ele, chega a 30%.

"Cada policial, cada mão de obra que a gente perder, especialmente em um momento como esse, sem dúvida nenhuma faz falta. Um policial a menos na Polícia Civil faz muita falta."

De acordo com a gestão Doria, já foram investidos mais de R$ 8 milhões em equipamentos de proteção aos agentes de segurança estaduais, que correspondem a cerca de 4 milhões de itens de equipamentos, além de produtos de limpeza e higiene.

Ainda segundo a pasta, desde o último dia 15, estão sendo testados agentes civis, militares e técnico-científicos que moram ou atuam na capital paulista, bem como os familiares que residem com eles.

"Policiais de outras regiões também serão testados, contribuindo assim com as autoridades de saúde no mapeamento da doença em todo o estado", diz a nota da Segurança Pública, mas, sem apontar a data de quando isso deverá ocorrer.

O governo paulista afirma ainda que, em caso de resultado positivo nos testes, do policial ou de seus familiares, o agente policial é afastado preventivamente, conforme orientações da OMS, do Ministério da Saúde e do Comitê de Contingência do Coronavírus.

Por fim, o governo afirma que todas as medidas adotadas desde março, como revisão e readequação de escalas, ampliação da Delegacia Eletrônica, não causou prejuízo às ações de segurança no estado.

"Neste período, inclusive, o patrulhamento em áreas próximas a hospitais e supermercados foi reforçado. Para garantir a higidez da tropa, as polícias também têm realizado ações para desinfecção e higienização de viaturas e sedes policiais."

Lista de policiais mortos:

31/03 - sargento (PM) Magali Garcia, 46 anos, capital

04/04 - investigador (Civil) Alexandre Lopes Nunes, 49, Diadema

06/04 - agente policial (Civil) Osmar Aparecido Nunes, 58, Osasco

11/04 - sargento (PM) Cleber Alves da Silva, 44 anos, capital

12/04 - sargento (PM)Benedito Amâncio Nascimento, 51, bombeiro capital

04/05 - investigador (Civil) Roberto Aparecido Ferreira, 64, capital

06/05 - cabo (PM) Gilberto Santana da Silva, Guarujá

11/05 - oficial administrativo (Civil) Cláudia de Cassia Saad, 54, capital

13/05 - cabo (PM) Ricardo Valentim da Silva, 47, Guarujá

13/05 - soldado Gleivan da Silva Lima, 36, capital

16/05 - escrivão (Civil)Edson Krause de Lima, 55, (não informado)

20/05 - investigadora (Civil) Yara de Mattos, 53, Sorocaba

20/05 - sargento (PM) Nelson Chagas Junior, 51, capital

22/05 - cabo (PM) Inaldo Farias da Silva, 46, capital

28/05 - soldado (PM) Rafael de Morais Leite, 36, capital