Número restrito de vagas nas universidades públicas reduz ainda mais a possibilidade de ingresso na graduação
Número restrito de vagas nas universidades públicas reduz ainda mais a possibilidade de ingresso na graduação | Foto: Anderson Coelho/12-4-2017


A dificuldade financeira é o principal entrave para que alunos do ensino médio não deem continuidade aos estudos. É o que aponta pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes). Do total de estudantes entrevistados em quatro capitais do País, 70% afirmaram que não seguiram para a graduação porque não teriam condições de pagar as mensalidades de uma instituição particular. Outros 23% justificaram que não foram aprovados em uma universidade pública. Um total de 1,2 mil pessoas (entre pais, alunos do ensino médio e egressos) foram ouvidos em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre.

Para o diretor executivo da Abmes, Sólon Caldas, o resultado apenas confirma a dificuldade dos estudantes de ingressarem no ensino superior. Embora mais de 90% dos pais e alunos considerem importante fazer uma graduação, 62% dos pais responderam que adiariam os planos caso os filhos não conquistassem uma vaga em uma instituição pública.

"Também ficou bastante evidente que o aluno acha importante cursar o ensino superior para conseguir um bom emprego e para atender uma exigência do mercado. De novo a questão financeira. No Brasil há uma inversão na educação superior, onde, normalmente, os melhores alunos do ensino médio particular vão para as universidades públicas e os alunos que precisam trabalhar para estudar é que vão para as instituições particulares e dependem do apoio do governo para poder bancar esse investimento", destacou.

A falta de vagas nas universidades públicas reduz ainda mais a possibilidade de ingresso na graduação. De acordo com dados do último Censo da Educação Superior divulgado pelo Ministério da Educação, dos cerca de 8 milhões de estudantes matriculados em 2015, 6 milhões estavam em universidades particulares. Apenas 1,9 milhão frequentava as instituições públicas. "Há o limitador de vagas nas universidades públicas e há o limitador de recursos que o governo precisaria dispor para poder arcar com a abertura de novos campi, com a estrutura física necessária. Por conta disso, o investimento sairia muitas vezes maior do que o financiamento estudantil", ressaltou Caldas.

A desigualdade na disputa pelas poucas vagas ofertadas nas universidades públicas exige muita persistência dos estudantes. Luana Ribeiro, de 21 anos, busca a aprovação no curso de Medicina. Ela sempre estudou na rede pública e contou que alguns conteúdos foram vistos pela primeira vez no cursinho pré-vestibular. A concorrência assusta, mas Luana disse estar confiante na vaga em uma universidade pública, já que, para ela, o financiamento está longe de ser um facilitador. "Não pensei em fazer particular. Mesmo com algum tipo de bolsa, ainda assim ficaria muito caro. As mensalidades custam entre R$ 6 mil e R$ 7 mil. Nem fui atrás porque fico pensando em como seria pagar tudo isso depois", considerou. "O governo deveria aumentar o repasse de verbas para as universidades públicas. Os cursos poderiam aumentar as vagas e mais gente teria acesso", completou.

FINANCIAMENTO
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) informou que o número de contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) saltou de 76.155 (em 2010) para 109.524 (em 2017). No entanto, o auge ocorreu em 2014 com a assinatura de 732.681 contratos.

Em nota, o Ministério da Educação ressaltou que não havia recursos suficientes para a oferta de vagas do Fies para o segundo semestre do ano passado. Ainda assim, foram criadas 75 mil novas vagas. Alterações no programa geraram economia para o governo federal e 150 mil novas vagas para o financiamento estudantil foram abertas no primeiro semestre deste ano. Após "rombos" identificados pelo Tribunal de Contas da União na utilização dos recursos, o Ministério da Fazenda deve concluir um estudo sobre o programa para que possa ser feito um projeto de reestruturação do Fies. Neste ano, a previsão orçamentária para custear os contratos é de R$ 21 bilhões.(Com Agências)