Belo Horizonte, 26 (AE) - O presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), ameaçou desistir de sua candidatura à reeleição para o comando do partido se o slogan "Fora FHC" for aprovado amanhã (27) no 2.º Congresso Nacional petista. Embora os dirigentes moderados sejam contra a palavra de ordem, o lema passou nos encontros do PT de todos os Estados, com exceção do Paraná, e tem apoiadores até mesmo na Articulação, a corrente de José Dirceu e de Luiz Inácio Lula da Silva. O resultado da votação deste sábado sobre o slogan, que prega o impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso e a antecipação da eleição de 2002, é imprevisível e ameaça rachar o congresso de Belo Horizonte (MG).
Em reunião realizada hoje com representantes da Articulação
Dirceu fez um apelo contundente para que eles rejeitem o lema. Nos bastidores, comentava-se que a diferença para um ou para outro lado seria pequena, de aproximadamente 30 votos. "Eu me sinto sem condições de ser presidente do PT se essa palavra de ordem for aprovada", afirmou. "Se passar o Fora FHC, esse campo (dos moderados) perde o encontro." Dirceu tem maioria para ser reeleito presidente do PT, mas acha que o partido sairá desgastado do congresso se levantar a bandeira da interrupção do mandato de Fernando Henrique.
"Vivi 24 anos de ditadura e tenho preocupação com a legalidade e com a democracia", argumentou Dirceu. "Temos de ganhar o país para a idéia de que podemos governá-lo e isso é muito mais radical do que o Fora FHC", completou, referindo-se ao discurso da senadora Heloísa Helena (AL), do grupo de esquerda Democracia Socialista, que acusara os opositores da palavra de ordem de "legalismo".
Há um cabo de guerra entre moderados e radicais em torno desse slogan. No Programa da Revolução Democrática - a tese da Articulação que vai nortear as diretrizes do PT para os próximos anos -, a tendência prega, no lugar do "Fora FHC", "Derrotar FHC e sua política".
Alega que "a questão fundamental é mudar a atual relação de forças e construir uma solução alternativa ao governo". Mas foram apresentadas várias emendas ao texto.
Preocupados com uma possível derrota, os moderados passaram a tarde de hoje negociando um acordo com a corrente Movimento PT, considerada de centro, na tentativa de formular uma alternativa intermediária entre as duas posições. A solução mais provável, articulada pelo deputado Aloízio Mercadante (SP) e pelo ex-prefeito de Porto Alegre (RS) Tarso Genro, seria apresentar uma emenda para deixar claro que o partido não apóia nenhuma quebra da legalidade, mas poderia defender o afastamento do presidente numa conjuntura de mobilização popular.
Heloísa Helena disse ter "absoluta certeza" da legalidade do pedido de impeachment do presidente. "O golpista do estado de direito e da ordem jurídica vigente é Fernando Henrique", acusou. Ela pregou um acordo interno entre as tendências petistas em torno da palavra de ordem. "Quero que alguém se contraponha a isso, que justifique por que não podemos dizer Fora FHC e o FMI" , atacou. Segundo a senadora, não há possibilidade de acerto com outros grupos que tenha, entre seus pontos, a retirada do slogan.
Na prática, os moderados temem que a palavra de ordem passe uma conotação golpista. "Vamos ter de ficar nos explicando a toda hora sobre o que quer dizer isso, uma posição defensiva que não nos interessa", observou o líder do PT na Câmara, deputado José Genoíno (SP). Para Valter Pomar, um dos vice-presidentes do PT, o problema do partido ultrapassa a briga entre moderados e radicais. Integrante da corrente Articulação de Esquerda, Pomar defendeu em plenário posição favorável à antecipação das eleições e citou vários fatos que, na sua avaliação, prejudicam a imagem do PT.
"O que torna o partido instável não é a esquerda, mas a retirada da bandeira vermelha na campanha, são as declarações de que o PT é socialista, mas não muito, é não aceitar o Fora FHC e taxar o slogan de golpista", provocou. Muito aplaudido no plenário, onde os delegados levantavam os crachás e gritavam "Fora já/fora daqui/com FHC e o FMI", Pomar animou-se. "Tem mais: o que torna o partido instável são os encontros do Lula com o ACM e o convite para que a Vera Loyola (socialite carioca) se filiasse ao PT", emendou. O discurso de Pomar recebeu aplausos até da bancada dos moderados, o que alarmou o comando da Articulação.
Alerta - Outro sinal de alerta foi dado pelo Movimento PT, que estava em negociações com o bloco majoritário do partido e a Democracia Socialista para um pacto de unidade política no congresso, em torno de alguns pontos. O principal item para os moderados é banir o "Fora FHC".
Mas quase todos os delegados do Movimento PT - grupo de Tarso e do deputado Arlindo Chinaglia (SP), que também concorre à presidência da legenda - foram favoráveis ao slogan defendido pelos xiitas. A posição acabou dificultando o acerto.
Na opinião do deputado Milton Temer (RJ), o outro nome que vai disputar a presidência do PT no domingo, com o apoio de todas as facções radicais, os moderados têm duas caras. "Há um jogo de encenação nesse congresso: isso não é para construir a unidade, e sim para dividir o partido", acusou, condenando a tentativa de acordo para isolar os radicais. "PT moderado é incongruência semântica ou falsidade ideológica."